segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

o seringueiro/histórias do sitio.

Como acentece nos sítios do interior, lá onde eu nasci, tinha um seringal. Não era coisa grande, era pequeno e as seringueiras ainda jovens, contribuiam para a pouca produção de “leite”. Algumas seringueiras, mais envelhecidas, eram mais exploradas, meu Pai fazia dois cortes; um que Ele ficava pisando no chão e outro que era preciso subir num “mutá” para cortar e colocar as tijelas para aparar o leite. Como o tio João, irmão do meu Pai, morava no terreno dele, na ilharga no nosso, eles, irmamente, uniram os dois seringais, e assim, o seringal ficou maior. Não diria que ficou “purrudo”, mas “gito” como era não ficou, o seringal aumentou. Eles exploravam o seringal alternadamente, uma vez o Papai explorava outra vez era o Tio João. Quando era a vez do Bararú (esse era o apelido do Papai), Ele acordava umas duas horas da manhã, tomava o móca e saia com a “poronga”, o balde de cuia, as tijelas, a faca de cortar seringa e uma “merenda”, sozinho.Às vezes, levava o “pau-de- fogo”. Mesmo que insistíssemos para que Ele fosse armada, Ele dizia: - mas pra quê então? Eu não vou lanternar! A lida dos seringueiros, não é mole não. Meu Pai saia de madrugada e ia cortando e colocando as tijelas nas seringuerias, até a últina seringueira. Findado o corte, Ele esperava o leite cair nas tijelas. Enquando isso, preparava e comia a merendo, que nem sempre era lá essas coisas,às vezes, um pedaço de jabá com farinha, um jacundá muqueado ou outro peixe assado e em último caso, um chibé. Recuperada a força, mais tornado, o “Velho” voltava aparando o leite no balde. Contudo, ao se aproximar de casa, num mututizeiro previamente escolhido, com uma boa sapopema e um porrete preparado anteriormente e deixado ali, o Bararú, dava o aviso, batendo forte com o porrete na sapopema, avisando que estava próximo e era para o pessoal do apoio entrar em ação,isto é, a moçada, inclusive eu, fazer o fogo para defumar a borracha. Nós pegavámos alguns sacaís, faziámos o fogo e quando já estava forte, colocavámos por cima, coroço de inajá ou ouricuri, para fazer a fumaça. Para concluir nosso trabalho, colocávamos o buião, para que a fumaça ficasse concentrada. O Papai chegava, defumava e a borracha ia crescendo.Esse ritual se seguia até a borracha ficar em ponto de venda. Aí era só ir no “Seu” joão Ramos e vender. Hoje, acho que era muito trabalho para pouco dinheiro mas como era bom aquele tempo.   

turismo/política.

Em recente reunião em Belém, alguns municípios receberam selos que os classificaram como município TURÍSTICO, COM POTENCIAL TURÍSTICO E DE APOIO AO TURISMO. Como turísticos, foram classificados os municípios de Altamira, Barcarena, Belém, Bragança, Curuçá,Conceição do Araguaia, Cametá, Marabá, Marapanim, Parauapebas,Salinópolis,Soure, Santarém e Tucuruí, totalizando 14 municípios, que receberam o Selo Ametista. Tres municípios foram classificados como tendo potencial turístico e receberam o Selo Jade, são eles: Maracanã, Oriximiná e Salvaterra e outros 16 municípios receberam o Selo Topázio: Abaetetuba, Alenquer, Belterra, Brasil Novo, Canaã dos Carajás, Capanema, Itupiranga, Jacundá, Óbidos, PONTA DE PEDRAS, Redenção, Santana do Araguaia, Santa Maria das Barreiras, Tracuateua, Vitória do Xingu e Xinguara. Dos 33 municípios anteriormente mencionados, já estive em 16 e com raras exceções, Ponta de Pedras não fica muito atras em termos de atrativos turísticos. Temos uma boa praia, matas ainda nativas, rios, um bom folclore (pouco explorado mas temos) e outros potenciais. Contudo, nosso grande atraso é na INFRAESTRUTURA. Temos poucos hoteis, transportes um pouco deficiente, não temos locais para eventos,  calendário de eventos deficiente, bares mal cuidados e se voces notarem, nem banheiros publico para uso nos maiores ajuntamentos estão disponíveis. Não devemos desaminar, pois, dentre os 144 municípios paraenses, estamos entre os 33 que de alguma forma são destaques. Chegar a município com potencial turístico acho que não seja difícil, porém, o Secretario de Turismo, deveria ter metas ambiciosas - lutar por uma vaga entre os 14 primeiros. Fácil não deve ser mas É POSSÍVEL. Estudando, pesquisando, fazendo plano e trabalhando, NOSSO SECRETÁRIO poderá contribuir em muito para o desenvolvimento do turismo por aí, pois, as autoridades do setor já nos deram credenciais pra pensar GRANDE, agora é só TRABALHAR PARA ISSO.Não custa lembrar que essa classificação é dinâmica e poderá mudar, pois, assim como um município poderá subir na classificação, poderá baixar, só depende de cada um

sábado, 26 de fevereiro de 2011

pindopéua/histórias do sitio



Existem determinados complementos que fazem a diferença. Quando eu ia nas festas, por exemplo, um cabelo sem brilhantina, parecia que não estava completo, tinha que ter um pouquinho, se fosse glostora então...  Uma tijela com açaí sem uma boa farinha, é como se estragassémos o açaí; um peixe assado sem um limão e uma pimentinha fica incompleto; um merengue, dançado sem uma calça de linho, folgada, como as que o Bonitinho usava, descaracteriza o dancarino.A calça é peça fundamental no conjunto ritmo-dançarino. E por aí vai. Um cacori, uma camboa, uma tapagem, sem uma boa pindopéua é um desastre.Todo um trabalho poderá ser desperdiçado pela falta de um pequeno detalhe: a pouca atenção dispensada à pindopéua. A Pindopéua é um acabamento que todo pescador deve fazer ao concluir uma tapagem, camboa ou cacari, quando são feitos com paris. A finalidade da Pindopeua é fechar bem a possível passagem do peixe entre o pari e a ribanceira. Sabe aquele mundéu bonito, bem feito, pronto para pegar aquele mucurão e depois de tudo pronto, colocar um cipó de tracuá para fazer o laço? Pois é, nesses casos, os “profissionais do marisco”, recomendam o uso do equipamento adequado para que se afaste qualquer surpresa. Assim, o laço do mundéu deveria ser preparado com um bom pedaço de punho de rede, seria mais adequado do que o tracuá. O cipó titica, nem se fala, esse é exclusivo para matapis, paris e paneiros, estes últimos, como estão sendo feitos de plástico, pouco usam o titica. Uma boa pindopéua se faz com a maré seca, num local onde a água castigue pouca a ribanceira, para que se possa fechar bem a possível fuga dos peixes quando a maré estiver grande. Na tapagem e no cacori devemos ter a mesma procupação, pois o peixe, ao bater no pari fará tudo para escapar e um dos caminhos é exatamente ir para a margem e uma vez encontrando a pindopéua mal feita, com buracos, certamente é por ali que o peixe escapará. Cada profissional tem sua técnica para fazer esse complemento, com folhas de açaí, sororoca ou outro material, contanto que seja bem feita.Comumente a pindopéua é amarrada com mucunã. Feito isso, é só preparar o sal e o limão para comer o peixe assado.

um cabôco do sítio


Quando eu era criança, as pessoas da cidade costumavam nos identificar como “pessoal do sitio”. Eu não tinha noção se era pejorativo ou não, no entanto, não achava legal.  Com o tempo e a experiência dos anos, concluí que deveria usar essa característica como um ‘ditado interiorano”, assim, uso muito a frase: “Eu acredito porque sou do sítio” e dessa forma, sobrevivo tranquilo, parecendo ficar “abismado”, “acreditando” em tudo e dando a devida atenção a tudo.Para os “espertos”, parece que estou sendo enganado, mas não se iludam: Sou assim porque sou do sítio. Sempre tive muito orgulho de ser do sítio. 
Viver no sítio, embora pareça bucólico, não é fácil. Temos nossas maneiras muito peculiares de sobrevivência que, sem uma boa dose de aprendizagem quando criança e uma aplicação continuada talvez a sobrevivência não seja tão fácil. Para conseguir a “bóia” e suprir outras necessidades, você deve saber preparar armadilha, fazer arapuca, fazer e armar mundéu, gapuiar poço, fazer tapagem, tecer pari, fazer e iscar matapi, rachar lenha, fazer peconha e subir no açaizeiro, cortar seringa e fazer a borracha, fazer aturá, cavar poço para amolecer a mandioca, fazer farinha, fazer cacori, camboa, preparar e iscar espinhel, fazer mutá, lanternar, fazer iapá ou panacarica, salgar peixe ou carne conforme a necessidade, além de outras habilidades que não lembro, enfim, um caboclo do sítio deve ser versátil para sobreviver. Depois que tive consciência dessa versatilidade nativa, já que eu nunca fui apresentado pra nenhuma delas na escola, eu passei a usá-las sempre que possível por onde passei, principalmente no Exército Brasileiro que, dado à minha grande intimidade com o mato, eu era normalmente escolhido para missões que envolviam essa habilidade e eu gostava, porque estava no meu habitat. 
Quis o destino que eu me afastasse da várzea, dos igarapés, dos juritis e dos pulos n’água do galho da momorana e assim, já não bato mais aquela mupunga! Deixei de acordar e beber aquele café preto com beiju quando tinha; deixei de remar contra a maré e hoje, as coisas parecem ser bem mais fáceis, mas só parecem, porque a saudade do sítio, às vezes, me deixa cuíra para regressar e pisar naquele tijuco frio, sujeito a pegar um frieira, um mijacão ou ter o pé perfurado por um estrepe, mas que fazer? Afinal de contas: jamais deixei de ser UM CABÔCO DO SÍTIO, COM MUITO ORGULHO!.
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