Quem costuma ler minhas postagens por aqui, deve ter notado que nasci
em Ponta de Pedras, um dos 16 municípios existentes na Ilha de Marajó, uma Região com mais de 500.000 habitantes, é uma boa quantidade de gente! Porém,
desde que me entendo, vejo que as melhorias alcançadas por Ponta de Pedras
foram mínimas, meu Município praticamente não cresceu, convivemos basicamente com
os mesmos problemas.
Quanto aos demais municípios da Ilha, não os visitei quando criança, a
não ser Cachoeira do Arari e Santa Cruz do Arari que ainda não era município
quando visitei o lugar. Os demais, Anajás, Bagre, Breves, Curralinho, Gurupá,
Melgaço, Muaná, Portel, Salvaterra e Soure, visitei quando servia na Capitania
dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR), não cheguei conhecer Chaves nem
Afuá. Como servi no 4º Distrito Naval entre 1989 e 2002, foi possível conhecer
inúmeros municípios paraenses.
No período em que visitei os municípios marajoaras, constatei que muitos
problemas existentes em Ponta de Pedras eram muito semelhantes aos problemas
existentes nos demais municípios da Ilha. Se compararmos com outros municípios
do Pará visitados por mim, vemos que muitos problemas estão presentes. Alguns
municípios perecem mais carentes que os outros, sendo que os do Marajó, apesar
de ser anunciada como uma Região rica, os municípios, na minha visão, não parecem
pertencer a uma região com essas riqueza toda, pois as características de
pobreza estão sempre presentes, como por exemplo, o baixo IDH, onde o Município
de Melgaço apresenta o menor do Brasil. Também no ENEM 2015, as escolas dos
municípios do Marajó obtiveram as menores notas do certame, sendo o Município
de Curralinho o detentor da lanterna entre os municípios paraenses. Apenas a
Cidade de Breves talvez por ficar na passagem das embarcações que trafegam rumo
a Manaus ou Macapá parece ser mais desenvolvida, outras, como Anajás, Bagre e
Curralinho, parecem mais carentes.
Tenho lido inúmeros estudos que propõe melhorias para a Região do
Marajó, como o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável para o
Arquipélago do Marajó, mais conhecido como Plano Marajó, mas até o momento não
saiu do papel, infelizmente. Enquanto isso, o Marajó pede socorro e ninguém dá
ouvidos, ninguém ajuda, parece que ninguém se preocupa. É uma Região do Brasil
olhada de soslaio, com pouco interesse, parece que ali não vivem brasileiros
como nas demais regiões.
Dizer que falta verba para proporcionar alguma melhoria para a
população do Marajó, parece não ser a melhor maneira de justificar o descaso com
que as autoridades olham para a região.
Desde 1970 viajo pela estrada Belém-Brasília, na minha primeira viagem,
ainda em ônibus da Empresa Expresso Braga, a estrada não era asfaltada,
tínhamos que “comer” poeira até Brasília e de Brasília ao Rio de Janeiro, passando por Belo Horizonte, as
rodovias apresentavam boas condições de trafegabilidade. Continuei viajando,
depois troquei o ônibus por carro e à medida que viajava, via as mudanças que vinham ocorrendo
nos municípios que ficam à beira da estrada. Antes, os municípios não dispunham
sequer de locais adequados para se pernoitar, somente uns poucos ofereciam
locais razoáveis para passar a noite. Tínhamos que planejar os locais de
pernoite antes de empreender a viagem. Os locais para se fazer refeições eram
lastimáveis; postos para se abastecer eram distantes e pedintes nas paradas eram em grande número. Continuei viajando e hoje, a estrada Belém-Brasília está
totalmente asfaltada, quando passamos pelos municípios constatamos que
construíram belos trevos; não é preciso se programar para pernoitar num
determinado município, pois todos oferecem condições razoáveis para se
pernoitar; existe um grande número de restaurantes para fazer refeições durante
a viagem; postos de combustíveis são abundantes e camionetes a diesel bamburram
nos municípios, o que leva-nos a imaginar que os municípios cresceram! Enquanto
isso, o Marajó está lá, parado, um pouco diferente do que era em 1970, mas em
relação aos municípios seus irmãos de beira de estrada, a diferença é enorme e
se formos comparar com alguns municípios
da Região Sul ou Sudeste, aí as diferenças ainda serão maiores.
Para dizer que os municípios do Marajó não viram crescer nada naquela
Região, vemos que cresceram os assaltos às embarcações que trafegam pelos rios;
o tráfego e o consumo de drogas aumentou assustadoramente; a corrupção hoje
infesta os municípios desviando os poucos recursos destinados àquele povo
sofrido; a prostituição prolifera, inclusive a bordo das embarcações que
transportam cargas, principalmente os comboios, onde meninas se prostituem em
troco até de óleo combustível; cresceram também o número de crianças e de mães
que levam seus filhos em pequenos cascos, pondo em risco a própria vida, para
pedir algum donativo das pessoas que passam a bordo da embarcações que transportam
cargas e passageiros, pois é comum, vermos a frase: joga!.. Joga!.. quando
passamos nos rios da Região.
Nós marajoaras, vivemos num círculo vicioso, não crescemos porque nossa
infraestrutura é precária, por outro lado, nossa infraestrutura é precário
porque não crescemos e assim nosso Região
não se desenvolve. Não temos nenhuma indústria capaz de gerar emprego e rendas
para nós. Mas também pudera! Uma indústria para se instalar numa região
necessita de energia; nós não dispomos de energia de boa qualidade para
fornecer para uma indústria, por enquanto só promessa. Nossa energia ainda é
fornecida por velhos geradores a diesel, os “linhões” prometidos ainda não
chegaram a todos os municípios do Marajó. Uma indústria, dependendo da sua
localização precisa de estradas para escoar seus produtos; nós não temos
estradas unindo os diversos municípios, só promessas. Uma indústria precisa de
bons portos para embarcar a sua produção ou desembarcar matéria prima; nós não
temos portos capazes de atracar um navio e muitos sequer oferecem condições de
atracação para uma embarcação de médio porte. Nossos aeroportos também são muito
deficientes, as melhorias prometidos, com investimentos na construção de
aeródromos e melhorias de alguns portos prometidas pelo Governo do Estado do
Pará, ficou só na promessa, continuamos na mesma. Nosso pessoal não é
qualificado para desempenhar funções técnicas numa indústria onde exija emprego
de mão de obra especializada porque os 16 municípios são carentes de escolas
técnicas. Somos carentes de saneamento básico, saúde, educação e segurança. A
educação é um problema tão sério que, existe município no Marajó, que tanto o
prefeito como o vice, ficaram só no fundamental. É triste,
mas é a realidade.
Recentemente, uma professora postou no facebook uma foto de algumas
tangerinas verdes, que segundo afirmou, era a merenda escolar dos alunos da
escola em que lecionava no Marajó. Outra postou afirmando que um parente seu,
doente, fora atendido numa unidade de saúde e não ficou internado porque a
prefeitura não pagara o salário do profissional de saúde.
Inúmeras são nossas carências, as pessoas que poderiam minimizar essas
necessidades parecem desconhecer o Marajó ou parece que estão mais preocupadas
com investimentos onde possa gerar algum retorno pessoal, como as obras
realizadas para a copa do mundo e agora as obras no Rio de Janeiro que sediará
as olimpíadas em 2016. Não posso afirmar que são gastos desnecessários, porque
a necessidade depende muito de cada pessoa, entretanto, uma coisa posso afirmar:
SENHORES GOVERNANTES: O MEU MARAJÓ PRECISA DE AJUDA.