O açaí é uma das riquezas de Ponta
de Pedras e desde que me entendo, seu cultivo e preparo pouco mudou,
porém os lucros, mudaram significativamente. Quando criança era comum
vermos as mulheres com nódoa nas mãos por terem amassado açaí. As nódoas
eram um tormento para as mocinhas quando tinham que ir a algum
ajuntamento, como uma festa por exemplo, pois não queriam se apresentar
com as mãos denunciando que tinham amassado açaí. Muitas conseguiam
retirar parte das nódoas com a seiva da guaxinguba, mesmo assim, nem
sempre era possível eliminar completamente. Depois, vi pela primeira vez
uma máquina manual de amassar açaí, criada pelo Nhorito, quando morava
ali na frente do hospital. Na sequência, apareceram as máquinas
elétricas de bater açaí que substituíram as amassadeiras e hoje, é comum
vermos essas máquinas em quase todos locais onde se consome açaí,
mesmo no sítio, onde os moradores adquiriram grupos motor-gerador que
produzem energia para fazer funcionar essas máquinas e as amassadeiras
com as suas peneiras e seus alguidares, praticamente ficaram só como
lembranças, ainda existem, mas já está vasqueiro se ver.
Nota-se
que evoluímos muito pouco ao longo de muitos anos, pois o método de
apanhar o açaí ainda é o mesmo, apenas as peconhas mudaram para
plásticas, em vez das tradicionais que eram feitas com a bainha da folha
seca do açaizeiro (Aquela parte que prende a folha na árvore) ou com a
folha verde da árvore do açaí. Os paneiros de cipó titica, arumã,
jacitara ou talas de meriti foram substituídos por paneiros feitos com
tiras de plástico e hoje, se coloca um plástico aberto no chão onde os
cachos são reunidos para depois debulhar e assim evitar perdas, outrora,
os cachos eram reunidos no chão, debulhados e depois juntava-se os
"bagos" que caiam para fora do paneiro. Melhorou o processo de colheita,
mas para tirar o fruto da árvore, nada mudou. O "cobôco" ainda rala o
peito na árvore quente ou lisa e está sujeito às cobras nas toiças e
tataíras nos cachos, é a dura labuta do apanhador de açaí.
Os
açaizais aumentaram, se outrora muitos moradores tiravam açaí apenas
para o "bebe", hoje, com a procura do produto nos grandes centros, o
preço aumentou e o açaí passou a ser um produto com grande valor
comercial, gerando grandes lucros para grupos comerciais que beneficiam e
distribuem a nossa maior riqueza.
O filme abaixo, mostra
claramente o que estou falando, os ribeirinhos colhendo e levando o açaí
para ser beneficiado por grandes empresas, que têm lucros
consideráveis, enquanto os coletores permanecem trabalhando como há
muitos anos atrás. Se houve alguma melhoria foi pouca.
Esse não é um
fato que acontece somente em Ponta de Pedras, pois outros municípios
também vivem essa situação, uns mais outros menos, isto porque, ao longo
de vários anos não se estabeleceu nenhum projeto para que o açaí, em
vez de ser exportado para ser beneficiado em outros locais, seja
beneficiado no próprio município e assim, beneficiar a população local.
O que falta para que isso aconteça é um assunto para ser discutido
entre empreendedores locais e as autoridades que administram nosso
município.
Aparentemente pode parecer difícil, pois é uma atividade
que envolve vários atores e todos visam obter grandes lucros com o
beneficiamento e distribuição do açaí, mas é necessário que se entenda
que nosso município precisa gerar empregos e certamente criar meios de
beneficiar e distribuir o açaí a partir do Município, certamente seria
uma boa oportunidade, não só para gerar empregos, mas gerar recursos
para a prefeitura, que poderiam ser revertidos em benefícios para toda a
população.