segunda-feira, 29 de maio de 2017

OS GOIABAS E SUAS VIAGENS PARA O ARARI.



 
Não sei se os meus conterrâneos marajoaras conhecem esse equipamento da foto, era muito usado pelas pessoas que outrora viajavam para o Arari, naqueles batelões a remo. Durante a viagem, num ou noutro estirão, para vencer a forte correnteza, os "goiabas", assim eram chamados pelos arariuaras os ponta-pedrenses que viajavam para o Arari, puxavam os seus batelões, às vezes com corda e outras vezes com cipós. Um dos viajantes subia na beirada e segurando numa ponta da corda ou cipó puxava a embarcação enquanto outro pilotava o bajara. Eventualmente, os viajantes eram puxados por um rebocador preto que era encontrado durante a viagem, o besouro, que assim como rebocava os batelões, às vezes afundava alguns. Na ida geralmente levava-se mantimentos para vender, como por exemplo: café, açúcar, tabaco, sal e outros gêneros. Esses produtos eram vendidos ou trocados por outros produtos mais abundante no Arari, como carne de sol, peixe salgado, capivara salgada, muçuã e por ai vai, que eram vendidos em Ponta de Pedras. Com o apurado, pagava-se a "conta" que ficara nas tabernas, pois os mantimentos que se levava para o Arari eram comprados fiado e muitos taberneiros ganhavam muito com isso.
Os viajantes, se não tinham capital para adquirir os mantimentos, tinham menos ainda para comprar uma boa embarcação, e muitas delas, viajavam em condições precárias. Algumas, quando estavam esbandalhadas, eram reparadas antes da viagem. Colocava-se pequenos pedaços de madeira para tapar algum furo e depois calafetava-se, dizia-se que foi colocado um "rombo" na embarcação. Mesmo assim, algumas, cansadas pelo longo tempo de uso, furavam durante a viagem e na impossibilidade de se colocar um "rombo' o jeito era encalhar o batelo numa beirado e tapar o furo com tabatinga e depois ter cuidado para não "rapar" numa árvore, como costumava-se dizer.
Para proteger a carga do sol, os viajantes construiam uma tolda, que era colocada entre o banco da popa e o meio da embarcação, na maioria das vezes até o primeiro banco após o banco da popa. A tolda era feita tecendo com tala de miriti duas estruturas retangulares e entre elas forrava-se com folhas, para evitar a entrada d'água e para finalizar, amarrava-se as beiradas com talas, pronto, estava feito o iapá! Para instalar o iapá na embarcação, usavam-se duas árvores, finas e flexíveis para que pudesse ser entortada e colocava-se uma na frente, junto ao bando do meio da embarcação e outra junto ao bando de trás formando arcos e por cima dessas duas varas, estendia-se o iapá e depois amarrava-se numa outra estrutura que era fixada ao longo da embarcação. Embaixo da tolda, podia-se amarrar uma rede pequena, estorde né? Pois é, mas os mantimentos que iam na frente da embarcação precisavam ser cobertos, aí a missão era da PANACARICA, que é o nome do equipamento da foto e ai com bons remos e um pedaço de jabá assado dentro de uma lata de molico, lá iam os "goiabas" para as suas viagens para o Arari.

domingo, 7 de maio de 2017

MATAPI.


Os matapís, para quem não sabe, são usados para pegar camarão. São feitos com talas de jupati e tendo o formato cilíndrico, tem um funil em cada extremidade por onde o camarão entra atraído pela isca, que é colocada por uma abertura feita mais ou menos no meio do matapí, é a boca. O camarão entra e não consegue mais sair, dado ao formato da entrada. A isca é diversificada, contudo, a mais usada, pelo menos no meu tempo, era a mistura de farinha, coco e um pouco d'água para umedecer. Depois de pronta, junta-se folhas de açaí, uma ao lado da outra e coloca-se um pouco da mistura, depois dobra-se formando um trouxinha e amarra-se com uma envira (embira), tirada da folha do miriti (buriti), deixando uma alça para que a isca seja pendurada na boca do matapi. O nome da isca, depois de pronta chama-se poqueca. Em determinadas épocas, quando o camarão bamburra, é necessário fazer um depósito para os camarões ficarem até serem vendidos, aí é feito o viveiro que tem o mesmo formato, mas sem o funil, pois destina-se apenas a manter os camarões vivos. Na foto, observa-se que tem um objeto amarrado próximo da boca dos matapís, são pedaços de miriti (usa-se isopor), usado para manter os matapís flutuando, porque os camarões estão mariscando na superfície. No foto, tirada às margens do Igarapé Giticateua, em Ponta de Pedras, também observa-se os xerimbabos mariscando.