Estamos cansados de saber que prefeitos adoram fazer
obras. É comum os prefeitos afirmarem em seus depoimentos, principalmente à
imprensa, que o seu município “é um canteiro de obras”, se orgulham disso. Em
alguns municípios é difícil até andar pelas ruas porque é tanto desvio por
causa de obras - nem sempre necessárias - que a pessoa disputa o espaço com os
carros, pondo em risco a vida da população.
Algumas obras não são originadas de um planejamento
e nem sempre atendem à necessidade da população, às vezes, são obras que
atendem um pedido de um grupo em particular; de um amigo do prefeito e
principalmente da vontade do prefeito em registrar a sua passagem pela prefeitura
com a realização de uma obra, se for pomposa, melhor ainda.
Os políticos para justificarem essa “necessidade” de
muitas obras, dão as mais diversas justificativas. Uns dizem que são obras
sociais, pois vão de encontras às carências do povo; outros dizem que as obras
resolvem o problema de desemprego, pois empregam várias pessoas; outros afirmam
que as obras injetam dinheiro na economia municipal e por ai vai, sempre tem
uma justificativa, o eleitor menos avisado acredita, apoia e muitas vezes até reelege
o prefeito.
Um fato interessante e pouco observado é que, uma
obra, mesmo aquela considerada como necessária, emprega dinheiro público que,
às vezes, seria mais útil se fosse utilizado para atender outra necessidade
mais urgente da população local. Isso sem considerarmos que após a conclusão,
em alguns casos, a obra fica subutilizada, até por falta de pessoal, como é o
caso de algumas escolas do governo que, embora novas, falta professores em
número suficiente e os que existem falta-lhes melhor formação. Talvez o
dinheiro público, fosse melhor empregado, trazendo maior benefício para a
população, se utilizado por exemplo, na formação dos professores, porque boa
educação não depende de prédios novos e sim de bons professores.
Esse problema com o amor pelas obras não é
particularidade de um município ou prefeito, todos, de um modo geral adoram
obras e Ponta de Pedras, não está “vacinada contra essa doença”. Vejamos alguns
exemplos:
a)
TRAPICHE DO PONTO CERTO.
Trapiche Municipal localizado no Ponto Certo.
O Trapiche mostrado acima, construído no Ponto Certo
é uma daquelas obras que se não existisse, provavelmente não faria a menor falta.
Durante o período que estive em Ponta de Pedras, em 2015, fui algumas vezes no
trapiche e não vi movimentação de embarcação atracando/desatracando que
justificasse a sua construção e olha que era um período de grande movimentação
de embarcações. Um dia, fiquei mais de duas horas no local e apenas uma
embarcação atracou para deixar umas duas pessoas e depois prosseguiu viagem. Olhando
ali pelos arredores, vi que existem outros locais para atracação de embarcação,
mas a obra foi feito, o dinheiro gasto e agora só resta conviver com mais um
trapiche municipal.
Por outro lado, na rampa onde fica a vila Monteiro,
podemos constatar a ausência de um local adequado para as pessoas atracarem,
desembarcarem e embarcarem com segurança nas pequenas embarcações amontoadas
ali, principalmente quando a maré está “seca”, conforme mostra a foto abaixo. Talvez
o dinheiro que foi gasto na construção do trapiche no Ponto Certo, trouxesse
maior benefício para a população, se fosse empregado para construir um local
mais adequado para as pessoas usarem quando deixam suas embarcações naquele
local e têm que embarcar/desembarcar, principalmente se forem idosos, mulheres
grávidas e crianças, à noite e com a maré baixa.
Pequenas embarcações atracadas, com a maré "seca" na rampa da Vila Monteiro.
b)
JARDINEIRA AO LADO DA CASA TAVARES.
Jardineira ao lado da Casa Tavares.
Mais uma obra totalmente desnecessária, não diria
inútil porque numa noite vi algumas mesas de uma lanchonete posicionadas junto
ao jardim, não diria atrapalhando os pedestres, mas diminuindo o espaço para
trânsito. Talvez o urbanista que idealizou o jardim tenha pensado em embelezar
a Cidade. Se a ideia foi essa, deveria ter considerado melhorar a aparência das
baiucas que estão ali, como cartão de visitas para quem chega, mas isso não foi
considerado. O dinheiro gasto com a jardineira não deve ter sido uma soma
considerável, mas se a Prefeitura em vez de gastar com a obra e depois pagar
uma pessoa para cuidar do jardim, conforme constatei, tivesse comprado três
aparelhos de ar condicionados, uma TV e um DVD para a biblioteca municipal e se
sobrasse troco, comprado alguns livros para aumentar o acervo da biblioteca que
está muito aquém das necessidades das pessoas, certamente o dinheiro seria
empregado de uma forma mais útil e traria maiores benefícios para a população do
município.

Baiúcas que ficam ao lado das jardineiras.
c)
OBRA NA PRAÇA MADRE OVÍDIA DIAS.
Obra para dentro do Rio
Parece que essa obra irá ser um marco da atual
administração, uma daquelas que o prefeito, futuramente se orgulhará. O que
chama à minha atenção, talvez por ser do interior, é que ninguém que
administrou o Município teve essa brilhante ideia e a população jamais sentiu
necessidade que a praça fosse aumentada para dentro do rio e olha que aquela
praça já tem mais de cem anos. Agora, um bom dinheiro será gasto para aumentar
o local para dentro do rio, mesmo havendo a possibilidade de poluição, mas o
que importa isso, se levarmos em conta a “utilidade” da obra.
À boca pequena eu soube que ali seria construído um
palco para ficar no lugar da Casa Cabocla que a Prefeita mandou derrubar. Eu,
calado estava, calado fiquei, porque não sei quantos espetáculos serão
realizados no dito palco que justifique tal dispêndio de verba, bem como
desconheço a necessidade da população com esse tipo de equipamento para shows
na Cidade, mas uma coisa eu sei: se o dinheiro gasto na construção dessa obra,
fosse direcionado para comprar equipamento para o hospital, como um mamógrafo
que até pouco tempo não tinha; se fosse investido em treinamento do
funcionalismo municipal, com o objetivo de melhorar a mão de obra e
consequentemente o atendimento ao público ou melhorasse o asfaltamento das ruas
de Ponta de Pedras, provavelmente seria bem mais útil para a população.
Rua atrás de Igrejinha que precisa ser recuperada e asfaltada.
Esses fatos mencionados, embora alguns concordem com
as minhas ponderações, não se pode ir contra a vontade dos prefeitos que
optaram pela realização das obras, afinal de contas, como autoridades máximas
do município, podem decidir assim, tanto que decidiram. Por outro lado, os
fatos, servem como subsídio para que a população se empenhe para participar
mais da administração municipal, que lute para que o próximo prefeito crie o
Conselho Municipal da Cidade (COMCID), previsto no Plano Diretor e por ocasião
do surgimento de ideias de obras no município, antes, seja reunido o Conselho e
seja discutido e depois decidido por todos, qual a utilidade de se investir
dinheiro do povo, que não é muito, em obras que nem sempre são oportunas
e muitas vezes o retorno para a população é duvidoso ou até são obras desnecessárias.
Para o prefeito, administrar ouvindo a comunidade é
de fundamental importância porque, tendo o aval da população para realização de
alguma política pública, incluindo obras, possibilitará dividir a
responsabilidade quanto ao sucesso ou não da ação, isso fará a comunidade
confiar mais no administrador municipal e passará apoiá-lo mais, acreditando na
intenção do administrador resolver os problemas da comunidade juntamente com a
comunidade e não preferindo atender a uma demanda particular.
Essa ação coordenada entre administração municipal e
população, certamente trará um melhor planejamento para aplicação do dinheiro
do município e assim, as melhorias poderão atender a maioria da população e
permitirá ao prefeito ter uma administração tranquila, bem sucedida e com o apoio de todos, que deveria ser o objetivo de todo prefeito.