Quem
vê uma cacuri pela primeira vez, não imagina as diversas fases em que o Caboclo
tem de superar até concluir sua obra. Normalmente, quando se decide a fazer um
cacuri, o local onde será “sentado” já
está previamente escolhido ou, pelo menos, já
se tem em mente. Após tomar a decisão, o Caboclo deve dispor das talas
de jupati ou de algumas toiças da mesma árvore para que as folhas sejam
cortadas, tiradas as talas e postas para secar. Deverá ter guardado ou
encomendado o cipó, sendo que o cipó pode ser o titíca, mais durável quando em
contato com a água e mais forte, por essas características mais difícil de ser
encontrado ou o tracuá, mais inferior, às vezes, ainda encontrado nos
inajazeiros nas capoeiras. Tendo o material disponível, começa a tecer os
paris, que normalmente serão de três alturas, sendo os da espia;da primeira
roda, mais altos do que os da espia e os da segunda roda, estes, mais altos do
que os dois anteriores. Observe na foto.
O
peixe, subindo ou descendo o rio, baterá na espia e se der sorte e rumar para a
beirada poderá fugir, mas se for para o meio do rio, seguirá a espia, passará
pela primeira roda e finalmente entrará na segundo roda que é menor do que a
primeira e com uma entrada/saída bem pequena, que fica amarrada. O peixe
forçará para entrar e não conseguirá sair. O peixe quando depara-se com um obstáculo tende a forçar a passagem e ir em
frente.
Se olharmos um cacuri de perto, veremos que é
uma armadilha muito bem imaginada, para mim uma verdadeira obra de arte.
Após
os paris ficarem prontos, são cortadas as estacas, da mesma forma, não são
exatamente iguais, as que ficam mais fora, isto é, mais afastadas da margem do
rio, são mais altas e uma delas é bem forte e alta, a principal, para segurar com firmeza e
esticar os paris da segunda roda. Observe na foto.
Para
“sentar” o cacuri, vai-se com a maré seca e estaca-se. Depois “espalha-se” os
paris, deixando as estacas de um lado e de outra do pari, isto é, vai-se
trançando. Esse serviço, nem sempre se consegue terminar numa maré, porque aos
poucos a maré vai crescendo e às vezes, volta-se depois para terminar o
serviço.
Concluído
a passagem dos paris pelas estacas, vem o acabamento, isto é, a fixação do pari
no chão e as amarrações dos paris nas estacas e nas emendas entre um e outro.
Concluída essa fase e estando tudo perfeito, o Caboclo irá dar o acabamento
final, fazendo a Pindapeua, que é uma tapagem existente entre a margem do rio a
o primeiro pari da espia, pois dificilmente o pari encosta perfeitamente na
margem, ficando sempre uma possível passagem para os peixes e, para evitar a
passagem do peixe, coloca-se a Pindapeua.
Feito
isso,inspecionado o cacuri, tudo em perfeitas condições, é só esperar as
alternâncias das marés. Geralmente despesca-se uma vez por dia e sempre na maré
seca, a menos que algum peixe ou outro fato indique uma necessidade de despescar
com a maré cheia. Quando vai-se despescar o cacuri, é aconselhavél levar uma
zagaia para verificar a existência de alguma arraia. Feita a inspeção e
constatando-se inexistência de perigo, despesca-se o cacuri com um paneiro, às
vezes, mergulha-se com o paneiro, vindo desde o solo, pegando-se os peixes
existentes.
Esse
é um tipo de pesca que os poucos está
caindo em desuso, primeiro pela facilidade de comprar-se peixes nos mercados e segundo,
os peixes que normalmente se pega nos cacuris, estão ficando cada vez mais vasqueiros,
contudo, quem perde mesmo é a cultura do meu interior, que aos poucos está
desaparecendo e chegará um dia que, os cacuris, serão só lembranças.