sábado, 26 de fevereiro de 2011

um cabôco do sítio


Quando eu era criança, as pessoas da cidade costumavam nos identificar como “pessoal do sitio”. Eu não tinha noção se era pejorativo ou não, no entanto, não achava legal.  Com o tempo e a experiência dos anos, concluí que deveria usar essa característica como um ‘ditado interiorano”, assim, uso muito a frase: “Eu acredito porque sou do sítio” e dessa forma, sobrevivo tranquilo, parecendo ficar “abismado”, “acreditando” em tudo e dando a devida atenção a tudo.Para os “espertos”, parece que estou sendo enganado, mas não se iludam: Sou assim porque sou do sítio. Sempre tive muito orgulho de ser do sítio. 
Viver no sítio, embora pareça bucólico, não é fácil. Temos nossas maneiras muito peculiares de sobrevivência que, sem uma boa dose de aprendizagem quando criança e uma aplicação continuada talvez a sobrevivência não seja tão fácil. Para conseguir a “bóia” e suprir outras necessidades, você deve saber preparar armadilha, fazer arapuca, fazer e armar mundéu, gapuiar poço, fazer tapagem, tecer pari, fazer e iscar matapi, rachar lenha, fazer peconha e subir no açaizeiro, cortar seringa e fazer a borracha, fazer aturá, cavar poço para amolecer a mandioca, fazer farinha, fazer cacori, camboa, preparar e iscar espinhel, fazer mutá, lanternar, fazer iapá ou panacarica, salgar peixe ou carne conforme a necessidade, além de outras habilidades que não lembro, enfim, um caboclo do sítio deve ser versátil para sobreviver. Depois que tive consciência dessa versatilidade nativa, já que eu nunca fui apresentado pra nenhuma delas na escola, eu passei a usá-las sempre que possível por onde passei, principalmente no Exército Brasileiro que, dado à minha grande intimidade com o mato, eu era normalmente escolhido para missões que envolviam essa habilidade e eu gostava, porque estava no meu habitat. 
Quis o destino que eu me afastasse da várzea, dos igarapés, dos juritis e dos pulos n’água do galho da momorana e assim, já não bato mais aquela mupunga! Deixei de acordar e beber aquele café preto com beiju quando tinha; deixei de remar contra a maré e hoje, as coisas parecem ser bem mais fáceis, mas só parecem, porque a saudade do sítio, às vezes, me deixa cuíra para regressar e pisar naquele tijuco frio, sujeito a pegar um frieira, um mijacão ou ter o pé perfurado por um estrepe, mas que fazer? Afinal de contas: jamais deixei de ser UM CABÔCO DO SÍTIO, COM MUITO ORGULHO!.
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