sábado, 16 de abril de 2011

GUISADO DE PORCO / ESTÓRIAS DO SÍTIO.


Juca do Panga estava arrumando os últimos detalhes para encontrar-se com Noca do Binga em Ponta de Pedras. Juca e Noca conheceram-se numa festa no Carnapijó, num sábado e, marcaram novo encontro na casa dela no sábado seguinte, dia que passaria na tv a luta entre Fantomas e Homem de Pedra, no programa Telecatch Montilla. Daí Juca estar terminando os  preparativos para sua ida à Ponta. Tudo arrumado, um bom par de roupas, sapatos, estrato, brilhantina, dinheiro graúdo e alguns borós, tudo preparado.
Antes de sair, por volta das seis da tarde, Juca deu uma espiada na panela de barro que descansava na trempe e não resistiu ao guisado de porco. Era um capado bonito, gordo, criado no chiqueiro, comendo basicamente murumuru e farelo, às vezes, umas sobras de croeira. Gostava de taperebá, tucumã e inajá, mas essas guloseimas nem sempre lhe eram oferecidas. Dava gosto lembrar o totiço do capado que atiçava o paladar do Juca.
Pegou um prato esmaltado que estava em cima do jirau, dentro de uma gamela, encheu com alguns pedaços, tendo atenção para uns toucinhos que estavam com boa aparência e deliciou-se. Para rebater, tomou um resto de bacaba que ficara do almoço. Pronto! Estava forrado.
Esperou a hora e aproveitando a reponta, partiu.
 O casco deslizava tranquilo. Com alguns minutos de viagem, começou a sentir umas dores na barriga, nada que o deixasse preocupado. Aproveitou um remanso e continou remando.
Ao chegar na ponte do João Ramos, já meia de enchente, a dor aumentara. Aí veio a certeza. Os toucinhos e a bacaba não lhe fizeram bem. Provavelmente um desmancho estava em andamento.
Amarrou o casco, saltou, vestiu-se e foi encontrar Noca, conforme combinado. Ao caminhar, sentindo aqueles espasmos repentinamente, era obrigado parar, juntar os joelhos, retesar os músculos da coxa, aguardar alguns segundos e continuar.Voltava ao normal.
Chegou na casa da Noca a luta já ia começar. Sala apinhada de moleques sentados no chão. Era tanta zoada e falatório que, seu Secundino, pai da Noca, foi obrigado intervir.
  - Vamo parar com essa zoada, vamo prestar atenção. Silêncio total.
Não para Juca, pois a barriga dele desobedecendo a ordem do seu Secundino, irrompia: thóó..thóó..
Vendo que não tinha outra saída senão aliviar-se daquele incômodo, Juca bolou um plano: pediria uma rebarda d’água pra Noca e enquanto ela fosse no pote buscar água ele iria se aliviar.
Assim procedeu.
 Logo que ela dirigiu-se à cosinha, Juca levantou-se e caminhando lentamente foi saindo da sala, tendo avisado antes, que iria comprar umas mentas pra tirar o bafo.
Ao chegar no corredor, indo em direção à porta, Noca viu o fujão, e veio pé-ante-pé, apoiou o copo no parapeito da janela e aproximando-se de Juca, sem ser notada, com os dois dedos indicadores em riste, cutucou nos vazios, nas ilhargas do Juca e disse:  vai fugindo hein?? Pronto! Com o susto, estava feito a desgraça. Foi ali mesmo.
O barulho foi tão alto que só não foi superado pela alegria da  molecada que estava vibrando com uma cutelada do Fantomas, mas um daqueles moleques traquinos, não deixou por menos e indagou:  de onde vem esse pixé?.

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