terça-feira, 10 de abril de 2012

A DIVIDA DO DIQUITO PREGO.


Juca andava inquente naqueles dias. Na roça não tinha paradeiro, ora espiava no relógio, ora abandonava a capina e ia beber um chibé ou dava uma desculpa qualquer para por pouco mandioca no aturá, o certo é que alguma coisa estava deixando Juca preocupado e D. Fuluca observando tal cuíra, não se conteve e perguntou:
- Mas meo Filho, u qui é antão esse haver de cuíra que te dexa assim, parece até bode na chuva, num para?
- É Mamãe, eu estou um pouco preocupado, vai chegar o aniversário da  Noca e até agora ainda não sei o que vou dar de presente pra ela. A Senhora sabe a dificuldade que temos de comprar um bom presente por aqui. Respondeu Juca.
- É meo Filho, por aqui só mesmo a Casa da Beira ou u Ponto Certo qui ainda tem arguma cuisinha, mas é cuisa puca, tu sabes. Rupa só aquelas qui num se usa mais i pano só uma chitinha i nada mais, o jeito é tu ires em Belém. Opinou D. Fuluca.
- Mas esse é o motivo da minha cuíra, tenho pouco dinheiro pra levar. Como a Senhora sabe, ainda não recebi aquele dinheiro que o Diquito Prego está me devando, referente a lenha que eu vendi pre ele. Explicou Juca.
- Mas meo Filho, coinfeito, eu bem que te avisei, tem cuidado que o Diquito é vilhaco. Tú te alembra quando teu Pai chegu dos marcos com aquelas cinco arrubas de uéua, pois é, o Diquito se incarregu de vender, mas o qui ele fiz, o que ele fiz, vendeu as uéuas pra uns cametaenses papa mapará e gastu tudo o dinheiro com rupa pra aquela impambada acesa, a tar de Quitéria, qui disque vive de amigamento cum ele. E teu Pai ficou sem um vintém e si recebeu fui aos puquinhos, tu sabes bem dessa história.Disse D. Fuluca. 
É, eu lembro, mas eu vou falar com ele e ver se recebo pelo menos a metade, já dá pra comprar um sapato. Disse Juca.
Meo Filho, mas fala cum ele i vê o que ele diz, caso ele dê arguma discurpa, porque esse pessoar é useiro e veseiro nessas artimanhas, aí tu me fala qui eu mesma vu ter uma cunversa com esse porquera. Eu quero ver si ele é mesmo arisco, ou ele paga ou meto-lhe o relho, aí eu quero ver ele tudo lanhado. Axi que ele num paga. Eu ponho ele pra correr niste açaizal e de tanto apanhar, vai percisar de afumentação no outro dia.O Diquito que me apoquente. Se exasperou D. Fuluca.
Calma Mamãe, deixe que eu mesmo converso com o Diquito, fique tranquila. Daqui a pouco eu vou no Itaguari e vou falar com ele. Disse Juca.
Ah! meo Filho, já qui tu vais no Itaguari me faz um favor, leva a garrafa e me compra meio quartilho de querosene, um maço de tabaço acará, um livro de abade colomy e forfi, mas meo Filho traz marca moça, pra mim u melhor forfi , u melhor. Disse D. Fuluca.
Sim Mamãe, eu compro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário