sexta-feira, 13 de maio de 2011

Amanhece no sítio.


A saracura anuncia que o dia vem raiando. D. fuluca, já estava acordada, inquieta, começou:
- Juca…..juca…acorda, tu num vai dispescar us matapi? A maré tá quase seca, vai logo, porque o guaxinim ainda pode esbandalhar os matapi, aí nem camarão nem nada…. só brisa! 
- Hum….hum….mas não tem dado guaxinim. Quem foi que já disse isso pra senhora?
- Tú num sabe antão? Foi o cumpadre Florenço. Ele disse que sinquidia, iscô uns três matapí a boquinha da noite e quando foi lá pelas nove hora ele fui vê..mas credo! O guaxinim tinha furado tudo,  esbandalhô tudo u funir.
- É, eu já vou…..
Juca levantou, desatou a rede de um lado, enrrolou e prendeu no punho do outro lado. Deu uma espiada no tempo e comentou:
- É, o dia já vem amanhecendo. Parece que vai ser um dia bonito.
- Vai logo.. bota a chiculatera nu fugo que eu já vu, dexa eu pegá meu caximbo aqui!..... Onde istá essa porquera meu Deus? Dica, Diquinha…mea filha, te alevanta, vê se incontra meu cachimbo. Juca me dá um forfi aí, pra acender essa lamparina. Diacho, agora num encontro a lamparina…ah tá qui. Juca num percisa mais o forfi eu já achei. Hum..Tisnei us dedo..diacho.
- O que já foi Mamãe?
Eu num peguei no murrão da lamparina antão? Me untou tuda i eu ainda impurrei u murrão pra dentro, agora sim…só puxando cum grampo.
- Deixe Mamãe, depois a gente vê isso.
- Antão me dá essa poronga du teu pai, tá inrriba du jirua na ilhargo du pote. Já buteste a chicoletera nu fugo? Olha, a burra..tá inrriba du jirua de amassar açai.
- Já vi Mamãe…..Tome a poronga, segure.
- Me dá…. Meo filho, me dá aquela rebarbinha de tabaco migado que tá ali na palha, naquele paperzinho branco.
-Já vi…tome. Mamãe, a senhora devia diminuir o fumo, eu soube que fumar faz mal.
- Eu num fumo muito… essa porquera de taquari num dexa, é só dá umas pitadas e o taquari intupi. U Dico me tirô um taquari parece a cara dele, intope logo…. tu sabe…..essas cuisas é bom a gente mesmo tirar, além du mais, este tabaco du Fonte num presta, parece até fulha de imbaúba, de fraco. Achaste u café?
- Já..
- Hum.
Dona Fuluca levanta, sai do quarto, dá uma espiada na sala, olha por cima do parapeito, vê a maré secando cada vez mais e arremata:
- Mas Juca te apressa piqueno, olha a maré, daqui a puco num consegue passar ali na ciriubeira caída. Só puxando a muntaria por riba du tijuco. Olha, tem uns bejus dentro dessa lata de mulico aí no penero, tira um pra ti. E te apressa, te apressa.
Juca tira o beiju, coloca o café no caneco esmaltado, adoça e senta num banco, que está encostado num canto da casa. Enquanto isso, D. Fuluca continua:
- cuidado cum a perna dixe mucho, paresque tá quebrada, já era pru teu Pai ter pregado, mas tu sabe cumo ele é discançado….só sabe dizer: é pra fazer….é pra fazer e não faz nada. Ô gente discançada… ah meu tempo….axi!..eu digu axi! Que eu já nun tinha dadu uns prego nixe mucho.
Juca terminou o café com beiju, encaminhou-se para o jirau para lavar o copo, como não tinha água pegou o balde e ia encaminhando-se para apanhar quando D. Fuluca deu as recomendações:
- Meo Filho, cuidado com o miritizero liso, deve tá impestado de titica de pato, agora eles deram pra dormir inriba do miritizero, até u sucuriju pegá um.
Juca foi, pegou a água e quando chegou D. fuluca, perguntou:
- Viste a muntaria? Tá inseca?
- Está mas eu empurro.
Meo Filho vai….vai logo. Quando for impurrar a muntaria, cuidado cum istrepe nu pé, ali tem umas talas de pari velho que são danadas pra istrepá u pé. Cuidado, cuidado..meo filho.  
Juca pegou um paneiro, o remo, um terçado e uma cuia pitinga pra tirar água da montaria e foi despescar os matapis.
D.Fuluca, ainda deu suas últimas recomendações:
- Juca meo Filho, tá vendo essa anágua branca qui istá quarando inriba do quarador,vira du avesso pra mim e vai cum Deus. Tú ainda vai vê u cacuri?
- Não sei, talvez..
- hum..si tu for, leva a zagaia e  cuidado com ferrada de arraia.
Juca empurrou a montaria, secou a água e quando já estava distante do porto da casa, ouvia: - Piri piri piri piri piri …..piri piri piri piri.
Era D. Fuluca, chamando os xerimbabos para dar comida. Mais um dia começava no sítio. 
 

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