sábado, 2 de julho de 2011

MATAPIS.

Eram aproximadamente tres da tarde, Juca estava terminando de tecer o funil de um dos matapis que pretendia iscar naquele dia. Estava um pouco triste porque o cipó que usava para tecer o funil era tracuá, o cipó titica tinha acabado.
D. Fuluca, para adiantar, estava descascando o coco com um cobó. Farinha tinha pouco e a poqueca teria que ser feita com coco, farinha e uma intera de babaçu.
- Diquinha, mea filha, me dá ixi ralo qui istá imbaxo da gamela, cuidado pra num quebrar a bilha. Disse D.Fuluca.
Ao levantar a gamela, Diquinha assustou-se. Credo tem um emboá e uma osga!
Mas dexa de pavulage lesa, me dá logo ixi ralo, égua parece qui tu tá acesa, osga num faz mar pra ninguém, num malina cum u imbuá. Respondeu D.Fuluca 
Diquinha deu o ralo para D. Fuluca. O ralo era feito em uma lata de 20 litros que fora aberta e furada com um prego. Para firmar, era pregado numa tabua, eventualmente, esse ralo era usado para ralar mandioca.
Juca estava terminando de fazer a tampa da boca do matapi,com aquele, já tinha um total de 20 matapis entre novos e velhos.
- Tu num vai butar bóia nexis matapi, disque us camarão tão dando na flor d’agua. Disse D. Fuluca
- Vou ver, ainda tenho um resto de miriti seco que poderá ser usado como bóia. Por falar em bóia, o que será o baco-baco no jantar, Mamãe? Perguntou Juca.
Bão, ainda tem uma rebarba de capiuara e uns bagu de farinha, se num der, o jeito é fazer um mingáu branco ou de cruera cum cuco, que ainda tem um puquinho naquele panero.Respondeu D. Fuluca
- Hum,hum.
Juca terminou de fazer o matapi e foi apanhar folhas de açaí para fazer as poquecas. D. Fuluca terminou de ralar o coco e levantou para pegar o babaçu para concluir o serviço, notou que a quantidade não era a mesma, ingadou:
- Mas Diquinha, me diz uma verdade, tu bulisti cum o babaçu daqui? Diquinha respondeu.
- Só tirei um pouquinho pra dar pro cochito, que estava com fome, nem enchi o croatá dele.Respondeu Diquinha.
- Tu visti se a bicheira dele melhorou? Eu untei com creolina onte, me parecia melhor. Disse D. Fuluca.
- Ele está mais tornado, mas ainda parece mofino.
- É mea filha, fizeste bem dar uma bucada pra ele, eu quero ver ixi capado gordo, se tivesse farinha, era bom fazer um chibé, mas num tem, agora só quando tiver manicuera, mas amanhã vu buscar uns murumuru pra ele.Disse D.Fuluca.
Enquanto isso, Juca preparava as poquecas para iscar os matapis e Diquinha remexia em seus bereguendens que tinham ficado em cima do petisqueiro.
Terminado de fazer as poquecas e iscar os matapis, Juca começou a carregar para a embarcação e D. Fuluca perguntou.
- Tú vai nu batelão ou na muntaria grande?
- Tenho que ir no batelão, a montaria não está com um rombo?
- É, teu Pai ainda não consertô, mas quando ele chegá du Ararí ele cunserta. Cuidado cum ixi batelão velho, entra água pela rudela de pupa. Disque u teu Pai tapu cum tabatinga, mas tu sabe, num custa sair.
-É, eu sei, respondeu Juca.
Juca carregou os matapis no batelão, pegou o remo e foi para a beirada,pois, a maré já estava na reponta. 



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