segunda-feira, 18 de julho de 2011

APANHADORES DE AÇAÍ.

Quando eu era ainda gito, lá pelo Giticateua, era comum chegar no porto de casa alguns atravessadores espalhando os paneiros para encher de açaí. Eram vários na época em que o açaí bamburrava. Nós já tínhamos nossos compradores certos. Lembro bem do Pedro Serra e do Cuiapéua, sendo que eles também compravam camarão frito, cirimbabos (xerimbabos) e tudo mais que pudesse ser vendido em Belém.
Entregue os paneiros, uns dois dias depois, eles vinham buscar o açaí, quando era feito o pagamento. Dependendo da quantidade de açaí no açaizal, o pessoal ficavo com 10 ou 20 paneiros para encher. Os paneiros eram normalmente feitos de jacitara,arumã, miriti ou outra fibra, hoje são feitos de plástico. As peconhas eram feitas de folhas verdes do açaizeiro ou das folhas que caiam das árvores, hoje, já usam sacos plásticos, disponíveis para embalar cebolas, por exemplo. As peconhas eram feitas de duas maneiras, a melhor peconha era feita da folha que cai do açaizeiro, assim, cortava-se as duas partes que fixavam as folhas nas árvores, enrrola-se e, em pé, pernas juntas, passava-se por trás das pernas, na altura dos calcanhares e dava-se um nó direito nas duas partes. Pronto, estava feita a peconha. Com as folhas verdes fazia-se o mesmo ou os mais experiantes, faziam a peconha antes de cortar a folha da árvore, contudo, era preciso ter cuidado porque podia ficar grande ou pequena. Passando por detrás das pernas fica no tamanho certo.
Feito os preparativos, limpava-se as toiças para ver se tinha cobra, mas de vez em quando alguma jararaca ainda surprendia, tapuru, formiga e caba, isso não se conta, fazia parte do dia-a-dia.
O ideal era subir numa árvore que desse para puxar outra e assim trazer mais de um cacho, isso se a tataíra permitisse porque muitas vezes tinha grande imissidade que não dava nem pra subir, se tentasse, levava uma coça que vinha zuruó lá de cima e quando chegava em casa tinha que afumentar com andiroba porque o estrago era grande.
Para puxar a árvore, caso fosse possível, o paruara tinha que ter sustância para segurar as duas árvores enquanto apanhava o cacho de açaí. Depois descia e ia debulhar nos paneiros, tendo o cuidado para juntar os bagos que caiam fora, hoje já existe um plástico que é colocado por baixo do paneiro e o açaí fica ali, concentrado. Os apanhadores já vão de tenis e alguns de botas e os atravessadores estão sumindo, já não temos mais as igarités, já não ouvimos mais os moitões rangeram quando a maré começa a vazar no trapiche e nem ouvimos o cozinheiro separar as achas de lenha para fazer o fogo no fogão preparado numa lata de querosene vazia com barro dentro, já não sentimos mais o cheiro do móca feito na lata de molico com cabo de pau e servido no caneco, levado pelo cozinheiro num xarão de lata, não comemos mais pirarucu com feijão em prato esmaltado durante as travessias e nem se vai mais bordejando até a saída da coluna. As canoas à vela que transportavam açaí para Belém já não existem mais, agora é tudo motorizado. Os atravessadores praticamente inexistem, só os apanhadores que ainda estão por lá, mas os açaizais estão melhor cuidados e hoje já se faz uma exploração mais consciente, o açaí passou a valer mais e os grandes proprietários de terrenos já contratam trabalhadores exclusivamente para apanhar o açaí. São tempos modernos. 

OBS: Meus agradecimentos ao Ginica (foto acima), amigo e grande apanhador de açaí.

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