Quem chegasse em Ponta de Pedras há quarenta anos atrás, ao passar
pela Ilhinha, via um estaleiro, normalmente com alguma embarcação sendo
remontado ou sendo construída. Um pouco mais adiante, na beira do rio, vinha a
casa com o comércio do Sr. Paulino; a olaria e a serraria do Sr. Ovídio (Ali
chegou a existir um alambique) e mais lá na frente, por detrás de um aningal, o comércio da Sra. Nela, não existia o Hotel
Reponta. Via-se o King Bar, a Igrejinha construída na pracinha, a Casa Tavares,
Bar do João, na cabeça do Trapiche; o mercado velho que infelizmente foi
destruído; um terreno, onde hoje é a feira e as três casas de comércio mais
importantes da Cidade: Casa Prosperidade, do Sr. Chico Goiaba, a Casa do Sr. Fontes e a Casa da Beira do Sr. João Ramos, ainda tinha a Casa do Paulo do
Álvaro. Ainda beirando o rio vinha a padaria e a saboaria do Sr. João Ramos; a
Olaria do Sr. Joaquim Mariano; o campinho da moinha; a Casa Ponto Certo e junto
à ponte do Ponto Certo, tinha um pequeno estaleiro onde o Sr. Luiz Tabaco e
seus filhos trabalhavam recuperando ou construindo embarcações. Seguindo vinha
a Serraria do Sr. José Mariano. Mais além, ainda tinha uma casa já chegando na foz
do Rio Armazém, eu não lembro o nome do proprietário.
Frente do local onde ficava a Saboaria do Sr. João Ramos e no final da ponte fica a padaria.
Em terra, PP também não era lá muito grande, ainda existiam alguns
terrenos sem construções e até as ruas ainda eram poucas. Não existiam as casas
que foram construídas na baixada, ali pro lado do Carnapijó. Não existia a
igreja nova; ali era um campo. O hospital não existia, o SESP funcionava atrás
do prédio da Prefeitura, entrando-se pelo lado. No Campinho, tinha um campo,
onde construíram uma escola. A rua que começa ali e se não me engano sai na
Rodovia da Mangabeira, não existia.
Rua que fui aberto mais recentemente,hoje já está aterrada.
Ali por perto da Prefeitura, construíram a Câmara Municipal onde
era o Cine Marajó e no terreno em frente ao cemitério fizeram algumas
construções que antes não existiam.
Para o Lado do fim do Mundo, pouco mudou, somente aquelas casas
que ficam por trás do campo são mais novas e no rumo do Arapinã, as casas iam
até a ponte. Depois da Ponte tinha o matadouro e a casa do Sr. Chiquinho
Boulhosa, se bem me lembro. Ponta de Pedras era basicamente isso, pequena.
Hoje está tudo mudado,
abriram-se várias ruas e as pessoas se espalham por todos os lugares da Cidade.
Mesmo aparentando pequena, com uma população relativamente bem dividida,
porque parte morava na Cidade e parte nos interiores (Minha família morava no
Giticateua, um igarapé que fica quase em frente da Cidade), PP dava uma
aparência de que seus dias seriam promissores.
Era comum ver a Santa Terezinha, canoa motorizado do Sr. José
Mariano embarcando madeira em frente da Serraria ou canoas “metendo” tijolos ou
telhas na Olaria do Sr. Joaquim Mariano, que se empenhava para seus
funcionários fazerem serão para aumentar a produção e assim cumprir seus
compromissos, já que a procura por tijolos e telhas era grande, tanto na Cidade
como para suprir outros municípios. Na ponte do Sr. João Ramos, a Maringá
geralmente estava atracada; na Ponte do Sr. Paulinho, a Santa Madalena
descarregava ou se preparava pra mais uma viagem. A Graça Divina, do Sr.
Flávio, com o Gracindo ou Gregorino, de vez em quando atracava no trapiche para
descarregar carga que ia de Belém ou outro local para PP.
Ao entardecer, as igarités, como vespertina, Sincera, Luz da
Esperança, Original, patativa, tão bem relembradas no balcão do Bar do Odu,
além de outras, iam chegando e atracavam no trapiche para aguardar a hora da
maré, quando iniciavam as viagens para Belém levando açaí e alguns passageiros
que, se fossem do sexo feminino, iam nas camarinhas, porque nos porões, o açaí
bamburrava.
Igarité, pintura existente no balcão do Bar do Odu.
Tinham os barcos ditos boieiros, como o Ivan do Sr.Bertino
Boulhosa, o Nossa Senhora do Brasil, também pertencente a um Boulhosa e ainda
tinha um barco do Ricardo (Guarasuco).
Era Comum vermos carregados com bois que iam do Arari para Belém
os barcos Boulhosa e depois o José Guilherme do Sr. Zequinha Boulhosa ou o Rio
Fábrica do Sr.Chiquinho Boulhosa, irmão do Sr. Zequinha. O Luiz Guilherme do
Sr. Nelzito, iniciou como boieiro e depois começou a transportar passageiros.
O Pessoal do Tijucaquara era mais chegado aos reboques que
viajavam para o Arari e quando regressavam atracavam ali na ponte do Sr. João
Ramos, geralmente carregados com traíras, jejus, piranhas e outros peixes
salgados, já as geleiras, ficavam atracadas na ilharga da rampa, para que o
“peixe do gelo” fosse descarregado para o mercado.
De vez em quando aparecia
uma capivara salgada que se comprova e assava para acompanhar o açaí que era
apanhado e amassado em casa, quase não se via máquinas. O Nhorito, filho do Sr.
Otacílio, foi um dos primeiro, senão o primeiro a possuir uma máquina de bater
açaí em PP, ele construiu uma manual.
No que se refere a politica, os pontapedrenses não davam lá muita
importância para a administração municipal, só na época da eleição que havia
uma farta distribuição de carne e o poder girava entre os Boulhosas, Noronhas e
depois Malatos. Pelo menos para a maioria, política aparentemente nada
significava.
Lembro certa vez que vi um cidadão com um cassetete de madeira e
ao perguntar para minha Mãe o que aquele homem fazia com aquele porrete na mão,
a resposta dela foi que ele era agente de polícia e vereador. Achei muito
estranho, pois o cidadão estava com a camisa aberta até próximo do umbigo,
calça enrrolada até o meio da canela e chinela tipo havaianas, cena que, para
mim, pareceu muito estorde. Com o passar do tempo, verifiquei que não precisava
nada mais que aquilo, porque PP tinha dois soldados e o delegado Sr. Edgar
Sapateiro, mantinham a ordem tranquilamente. Para se ter uma ideia, durante
aquele tempo eu jamais soube de um assassinato em PP, os presos que ficavam
enjaulados na cadeia, aquele prédio onde funcionava a prefeitura antes do
Palácio Municipal ser recuperado, só era ocupado por pessoas que, estando
embriagados, brigavam em algum local e a briga, era vencida por quem derrubasse
o outro com a costa no chão, não havia faca, revólver ou outra arma, era só na
queda. Para não dizer que não prendeu um criminoso, a cadeia serviu para o
cumprimento de pena de um cidadão que cometeu um crime em Cachoeira do Arari e
cumpriu a pena em PP, por sinal, após pagar sua dívida com a justiça, ficou
morando na Cidade e sempre demonstrou ser uma excelente pessoa, principalmente
seu filho Jorge, muito meu amigo.
Antiga cadeia municipal.
Hoje, quando se vai em PP, nada disso existe, a Cidade cresceu, os
lugares antes destinados ao lazer das pessoas foram ocupados por imóveis, como os campos de futebol, inclusive o
campinho da moinha. As igarités sumiram, deram lugar às canoas motorizadas e os
barcos, as olarias e serrarias acabaram, dos estaleiros, continuam aos troncos
e barrancos. O do Sr. Luiz Tabaco, um
dos descendentes continua lutando para manter o estaleiro e a profissão de pé, embora
a maioria dos barcos ainda sejam de madeira. Inúmeras casas de alvenaria foram
construídas, até prédios existem em PP, mas a Cidade tem que importar tijolos e
telhas de outros municípios. Talvez a situação atual em que se encontra PP,
seja fruto das escolhas das pessoas ou das políticas públicas adotadas no
Município, onde foi dado pouca importância para o crescimento da economia
local.
Depois de constatarmos certo crescimento populacional, com
consequente aumento dos problemas originados das demandas das pessoas, vemos
que praticamente os únicos empregadores são a Prefeitura Municipal e o Estado,
uns poucos conseguem trabalhar no comércio varejista, pois, se por um lado a
Cidade cresceu, a geração de emprego não acompanhou esse crescimento, visto
nosso Município não dispor de nenhuma indústria, nem do seu principal produto
de exportação, o açaí.
Somos um Município pobre, aparentemente com falta de criatividade
para criar novas oportunidades de geração de rendas para a população.
Será que estamos fadados a viver de lamentações e sempre à espera
das transferências dos Governos Estadual e Federal? Essa resposta....... Ainda
é um mistério.
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