Recentemente eu comentei como era Ponta de
Pedras mais ou menos há quarenta anos atrás. Naquela oportunidade, argumentei
que PP cresce e sua economia nem tento.
Contudo, nem todos os setores se comportaram
assim ao longo do tempo. O setor que congrega os profissionais da música em PP,
pelo número de músicos existentes no Município, tudo indica que cresceu bem
mais que a Cidade. Seria o caso então, de procurarmos saber o motivo desse
ocorrido.
Hoje PP dispõe de tantos músicos que durante
um Círio que acompanhei, duas bandas se revezavam. Quando uma terminava de
tocar, outra já estava iniciando, enquanto em outros tempos o número desses
profissionais era bem reduzido.
músicos de Ponta de Pedras tocando durante o Círio (Em segundo plano, com clarinete na mão e de chapéu, o Sr. Antônio do Manduquinha).
Naquele tempo, esses profissionais contavam-se
nos dedos, tínhamos basicamente: os ceguinhos, os catumbis, Manin, Mestre
Açúcar, Sr. Amanajás, Daco, Vadico e mais uns poucos gatos pingados. Hoje é
difícil relacionarmos todos os músicos existentes em PP, dado o grande número.
Alguns com formação universitária em música, coisa que antigamente nem se
cogitava.
Esse grande número de músicos em PP, deve-se,
pelo que eu saiba, ao empenho do Sr. Antonico Malato.
Quando eu morava em PP sempre conheci seu
Antonico como tabelião, nunca imaginava que um dia teria essa brilhante ideia
de criar um grupo para estudar música e sequer sabia seu interesse por música.
Aquela pessoa de conversa calma, voz pausada, se falasse comigo hoje eu diria
que jamais seria político, pois, na minha opinião não apresentava o perfil de
um político profissional.
Lerdo engano! Seu Antonico se candidatou e deu
no que deu. Foi eleito Prefeito e diga-se, um bom Prefeito. Mandou construir o
B/M Raimundo Malato que ainda hoje navega nas águas marajoaras e iniciou a escola
de Música de Ponta de Pedras. Hoje, vemos nosso pessoal fazendo bonito por onde
passa. Até com apresentação no Teatro da Paz! Será que alguém imaginava isso ha
quarenta anos atrás? Ainda não tive o privilégio de assistir uma apresentação dos
músicos do meu Município, mas certamente ficaria emocionado, nem tanto pela
apresentação, pois já vi outros músicos em
outros locais, mas sim, pelo orgulho de ver meus conterrâneos em destaque,
quando poderiam estar no anonimato, principalmente se levarmos em consideração
o berço de nascimento.
A pergunta que faço é: por que outras
profissões, tais como, costureiras, pedreiros, carpinteiros, marceneiros,
relojoeiros, oleiros, bordadeiras, doceiros e tantas outras que existiam e
existem em PP, continuam paradas no tempo? Mesmo os produtos sendo de boa qualidade,
não foram pra frente. No meu modesto modo de pensar existe uma explicação.
Sabemos que ninguém nasce sabendo, tudo que
sabemos nós aprendemos, mas para isso, é fundamental que tenhamos vontade de
aprender e principalmente tenha quem ensine. Não adianta ter vontade de
aprender se não existe quem ensine. Se não existir quem ensine e quem queira
aprender não adianta. Não vinga.
Quando existe apenas um dos atores, quem
queira aprender por exemplo, a solução é buscar alguém para ensinar e após
conseguir essa pessoa, oferecer condições mínimas para possibilitar o
ensino/aprendizagem. Foi exatamente aqui, que a presença do seu Antonico foi
importante.
Vendo que existia pessoas para aprender, ele
contratou o Mestre Martinho, músico de Curuçá(Depois o empenho do Sr. Antônio
do Manduquinha foi muito importante) e disponibilizou meios para que o
professor pudesse exercer seu ofício.
Após a seleção prévia dos interessados em
aprender, distribuindo-os conforme suas habilidades para cada instrumento, Mestre
Martinho começou transferir conhecimentos para muitos que pouco contato tiveram
com a música. O resultado daquele pequeno ato do seu Antonico e do conhecimento
e empenho do Mestre Martinho, deu origem a Associação Musical Antonio Malato
(AMAM), não se deve confundir, porque tem outra AMAM que não é tão exitosa assim.
Músicos do Clube Circulista de PP, precursores da Banda Sinfônica. Alguns formados por Mestre
Martinho.
Se as outras profissões citadas anteriormente
tivessem o mesmo apoio que foi dado aos interessados em aprender música, quem
sabe hoje, PP não teria uma fábrica de roupas; carpinteiros de PP poderiam
estar trabalhando em outros estados, como já aconteceu quando um carpinteiro de
PP foi construir uma casa em Brasília; poderíamos ter uma cooperativa com
excelentes pedreiros que poderiam estar trabalhando para a prefeitura,
inclusive fornecendo mão de obra para outros municípios; peças de artesanatos
produzidas por oleiros do município poderiam estar expostas em diversos lugares
pelo mundo; PP poderia ser a terra dos bordados marajoaras; o mercado de
relojoeiros poderia ser dominado por pontapedrenses; as padarias poderiam estar
brigando por padeiros de ponta de pedras; nossos estaleiros talvez estivessem abarrotados
de embarcações para reparos e outras tantas estariam nas filas aguardando vagas
para reparos ou construção, sem considerarmos que poderíamos estar construindo
embarcações de ferro. A variedade de bons profissionais em PP talvez fosse bem
diferente.
O que fez a diferença no grande aumento do
número de músicos em PP e a consequente criação da AMAM, foi o incentivo. Sem
incentivo visando ganhos futuros, as pessoas têm pouca probabilidade de crescer;
sem vislumbrar a possibilidade de melhorias, muitos se acomodam e outras
desistem. Oferecer alternativas além daquelas que cotidianamente convivemos,
possibilita um maior número de escolhas para as pessoas, abre portas e mostra a
muitos, novas oportunidades. Isso dá ânimo e gera esperança.
Oferecer oportunidades de melhor aprendizagem
para os que já dominam um ofício desperta na pessoa a esperança de melhoria,
pois todos sabem que a especialização traz grandes benefícios para quem as
adquire.
Quem poderia imaginar que PP fosse capaz de
produzir tantos músicos, se seu Antonico não tivesse a brilhante ideia e
vontade de dar oportunidade aos nossos conterrâneos de escolherem entre
aprender música ou ficar somente nos seus afazeres cotidianos? Nosso povo, como
qualquer outro, é capaz e está disponível para adquirir novos conhecimentos ou
aprofundar os já adquiridos, mas para isso, é necessário iniciativa, seja
privada ou do poder público.
Os governos municipais deveriam criar
programas onde o objetivo fosse exatamente criar novas oportunidades, esses
programas, como já se constatou, nem sempre necessitam de somas de recursos tão
altas que a própria administração municipal esteja impossibilitada de assumir.
Vemos que inúmeras soluções relativamente simples, poderiam ser resolvidas pela
administração e comunidade, no entanto, esse entendimento nem sempre ocorre.
Projetos cujo resultado seja de media ou longa duração pouco são criados, as
administrações querem imediatismo, querem resultados, sempre na busca de votos.
Enquanto as administrações municipais
estiverem voltadas somente para o imediatismo, para os investimentos visando a
conquista de votos, soluções simples e benéficas para a comunidade ficarão
relegadas a segundo plano ou esquecidas.
As pessoas que visarem ocupar os executivos municipais,
principalmente dos pequenos municípios, deveriam adquirir informações sobre
boas soluções já testadas e exitosas em outras administrações e serem humildes
para seguir os passos desses empreendedores municipais.
Quer um bom exemplo: a Associação Musical
Antônio Malato está ai para servir de modelo.
Assista a um trecho da apresentação da Banda Sinfônica
Antônio Malato, no Teatro da Paz em Belém, veja também a bandeira de Ponta de
Pedra tremulando, bem como a justa homenagem feita a Sra. Diva Malato esposa do
seu Antonico, que infelizmente não viveu o suficiente para ver esse momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário