Em épocas idas, os meses de junho eram bastantes divertidos em Ponta de
Pedras. As ruas da Cidade, principalmente nos finais de semana, ficavam bonitas,
coloridas e alegres com os cordões que saiam para brincar.
Os cordões geralmente eram formados por dois grupos de pessoas: grupo do sítio, onde brincavam o pessoal do Armazém
juntamente com o pessoal da Boa Vista e o outro grupo era formado pelo pessoal
da Cidade. O pessoal do sítio, geralmente organizava um cordão de pássaro ou
peixe, enquanto a Cidade organizava o boi.
As organizações dos cordões eram feitas com bastante antecedência, para
que desse tempo de escreverem as comédias, convidarem o pessoal e ensaiarem,
para que no mês de junho estivesse tudo pronto e a brincadeira fosse um sucesso.
Ponta de Pedras era mais aconchegante, parece que as pessoas eram mais
amigas, não existia droga, assassinatos, gangues, traficantes, era uma
autêntica Cidade do interior, com poucos veículos, sem motos e umas poucas
bicicletas. Era comum ver as pessoas nas partas das suas casas, sentadas em
cadeiras de balanços, apenas conversando enquanto as crianças ficavam brincando
na rua tranquilamente. Não sei se esse costume perdura.
Dia de semana, à noite, na pracinha, o máximo que se via era alguns
casais de namoradas conversando sentados nos bancos (bem poucos), umas pessoas sentadas
conversando e tomando um cafezinho no Miguelão e o pessoal do dominó, jogando
no Bar do seu Imérito, no mais, só alguns cães perambulavam por ali. Quando
chegava a hora de dormir, lá pelas dez, após as badaladas do relógio da
Igrejinha, ou, antes da luz apagar, andava-se pelas ruas sem calçamento e
algumas com o capim roçando nos pés, como ao se atravessar o campo, onde hoje
fica a Igreja. Perigo,barulho? Só algum latido de cachorro e grilos que
ensaiavam suas "orquestras", mais nada! Era só paz e tranquilidade, até sábado,
quando os cordões saiam e aí o pau comia no centro!
Eu por ser do sítio, pouco acompanhei a “arrumação” do boi, mas os
cordões do sítio eu assistia, inclusive aos ensaios. Quando ia de férias para
casa dos meus pais que moravam no Giticateua, um igarapé que fica quase em
frente à Cidade, nos sábados, eu acompanhava
a turma. Minha família quase toda se envolvia, exceto eu e minha Mãe, Flozita;
o Vadica (Bararu), meu Pai, tocava viola; o Maximino era o amo; a Graça quando
não era a fada, era a mulher de algum personagem; o Iracindo (Apito) era marido de alguma personagem ou, eventualmente, índio e o Nardino era a Catirina, por saber fazer palhaçadas que divertiam o
público. Tinha o Almiro (Catitinho), meu primo, que era o Tuxaua; o Sércio do
Manduquinha, também meu primo, era o caçador; a Terezinha, minha prima
(Falecida) geralmente dançava com o pássaro ou peixe porque era muito bonita e ainda tinham outros brincantes, como, Romeu, Zé Tavares e outros mais.
Um pessoal que para mim fazia toda diferença, era o pessoal da fila. A
fila ficava atrás do amo e na frente dos músicos. Eram garotos mais ou menos de
uns 10 anos, geralmente da mesma altura, do mesmo tope como diziam que,
abraçados, um ao lado do outro, cantavam as músicas compostas para o cordão,
acompanhados pelos músicos. Sobre os músicos não precisa muito comentário, mas
naquele tempo Ponta de Pedras, não tinha semente de músicos, já tinha árvores
formadas, como Antônio do Manduquinha, Paulo do Manduquinha, Mestre Açúcar, Seu
Amanajás, Manim, Vadico e tantos outros que ainda estão por ai, como o Daco,
fera no violão.
O cordão saia e ia se apresentar nas casas, onde os donos assistiam a comédia, uma peça de teatro ao ar livre, com o amo jogando seus versos e os brincantes interpretando seus personagens, momento em que se avaliava a performance do cordão. Depois, os donos da casa pagavam alguma importância que no final da noite, não era
suficiente nem para pagar os músicos, mas todos se divertiam. Às vezes na chuva!
Era muito bom. Parecia que naquela época o povo era mais feliz, tinha
mais tempo pra se divertir.
Hoje está um pouco mudado, o mês de junho em Ponta de Pedras é apenas
mais um mês do calendário, sem maiores atrativos. O desaparecimento dessas
brincadeiras que deixaram boas lembranças para quem viveu aquele período parece
que sumiram mesmo. Seja pelas circunstâncias do próprio tempo, que trouxe novos
anseios para a população, com outras prioridades, não tendo mais tempo a perder
com algo que “não dá lucro” ou quem sabe, falte incentivo para as pessoas
preservarem sua cultura, tal como ocorre em outros locais, como no sul, por
exemplo, onde existem inúmeros municípios que anualmente relembram velhos
hábitos, como o festival da uva, festival do marreco, oktoberfest; outros que
se mantiveram e até cresceram, como o Festival de Parintins; Boi de Matraca e
Boi de Pandeiro de São Luiz do Maranhão. Já outros, aos poucos, vão se
consolidando, como o Festival do Camarão em Muaná; Festival da Mandioca Mole,
em Portel e tantos outros existem que, além da manterem a tradição da
localidade, mantém viva a cultura da local, traz recursos para o município
e contribui muito para um melhor relacionamento entre as pessoas,
principalmente entre os munícipes. O quê falta para Ponta de Pedras voltar a
ter um mês de junho animado, com cordões bem organizados, voltar a envolver os
pontapedrenses nesses eventos que poderão
fazer do mês de junho em Ponta de Pedras, a Festa Junina do Marajó?
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