Em 2000, Marcos Mendes, doutor em economia e Alexandre Rocha,
mestre em economia, ambos consultores Legislativos do Senado, realizaram um
estudo com dados referentes a 96% dos 5.561 municípios brasileiros, tentando
descobrir quais são os fatores que mais contribuem para reeleger um prefeito. Achei interessante a conclusão, leiam:
O QUE REELEGE UM PREFEITO?
Marcos Mendes C. Alexandre A. Rocha
CONCLUSÕES
Este artigo procurou analisar as diferentes variáveis que afetam a
probabilidade de reeleição de um prefeito no Brasil. Tal exercício constitui
uma apreciação empírica de argumentos teóricos acerca da eficácia das eleições
como instrumento de seleção dos melhores gestores públicos.
São duas as principais conclusões:
a) o eleitor e as
instituições parecem monitorar a performance do prefeito apenas parcialmente;
b) a probabilidade de
reeleição está fortemente correlacionada com a expansão do gasto público.
Diversas variáveis apontam para o monitoramento parcial da
performance do gestor público. Variáveis relacionadas a fatos amplamente
divulgados pela imprensa, como a acusação de cometer crime grave (CRIME) ou ser
premiado por boa gestão (PREMIO), afetam significativamente as probabilidades
de candidatura e/ou de reeleição. Já indicadores de performance de menor
visibilidade não parecem afetar as chances de candidatura ou reeleição, como é
o caso dos prefeitos listados pelo TCU como autores de irregularidades, ou têm
correlação mais tênue com o sucesso eleitoral, como verificado no caso dos
indicadores de políticas públicas.
A acusação de crime grave possui outra característica que aponta
para o monitoramento parcial: os acusados encontram dificuldades para conseguir
se candidatar a um novo mandato, mas, uma vez que consigam confirmar a
candidatura, então suas probabilidades de reeleição tornam-se iguais às dos
demais prefeitos.
A associação entre ampliação da despesa e o sucesso eleitoral
também aparece em diferentes variáveis. A primeira delas é a própria taxa de
expansão da despesa corrente (DCOR), que está fortemente correlacionada tanto
com a probabilidade de candidatura, quanto de reeleição. Além disso, o mesmo
resultado é encontrado para a expansão das transferências correntes (TCOR)
recebidas, ou seja: quanto maior o poder de gasto (recursos disponíveis),
maiores as chances eleitorais. A correlação positiva entre reeleição e
afinidade partidária com o Presidente da República (PARTPRES e ADVPRES) também
pode estar associada à disponibilidade de recursos para realizar gastos, já que
os correligionários do Presidente podem ter maior acesso a fundos federais. E,
por fim, os municípios novos (NOVO), que não têm passivos acumulados, já nascem
com transferências federais garantidas e têm possibilidades grandes de gastos
para montar toda a burocracia local, mostram grande predisposição a reeleger
seus prefeitos.
Esse resultado está, possivelmente, associado ao modelo de
federalismo fiscal vigente no Brasil, que induz os munícipes e seus
representantes a ampliarem ao máximo o gasto local e pleitear transferências
federais adicionais para financiar as despesas extras. Note-se que o período
estudado é anterior à Lei de Responsabilidade Fiscal, que instituiu diversos
limites legais ao gasto dos estados e dos municípios. Existe a possibilidade de
que essa mudança institucional tenha imposto limites ao uso da despesa como
ferramenta eleitoral.
Constatou-se, ainda, um padrão diferenciado no NorteNordeste em
relação ao Sul-Sudeste. Na primeira região, menos desenvolvida em termos
econômicos, a influência do Presidente da República é maior, e o expurgo dos
prefeitos acusados de crimes graves
não ocorre. Padrão inverso é observado no Sul-Sudeste, que pune
com mais rigor o prefeito acusado de crime e não privilegia o candidato do
partido do Presidente.
Esse resultado é coerente com as interpretações feitas
anteriormente. A influência do Presidente é mais pronunciada na região mais
pobre e dependente de recursos federais, o que reforça a hipótese de vínculo
entre a influência do Presidente e o seu poder de transferir recursos aos
municípios. Por outro lado, reforça-se a interpretação de monitoramento parcial
da performance dos prefeitos, uma vez que, somente nas regiões mais
desenvolvidas, onde os eleitores são mais instruídos e mais informados, é que
as instituições conseguem barrar a candidatura de prefeitos acusados de crimes
graves.
Fonte: Senado Federal.
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