segunda-feira, 14 de março de 2011

burriscando no sítio.

No sítio, tem épocas que burrisca o dia todo. Nesses dias, comumente dizemos que o jacuraru rói-o-rabo. No fogão, a trempe fica vazia, somente aquelas achas de pecapeuá estão dispostas para muquear um pedaço de comer que, nesses dias, fica bastante vasqueiro.O cobó metido na palha ainda está pitiú do jaraqui que foi riscado no dia anterior – na maré da tarde dá alguns jaraquís, mandubés e camarões, miúdos mas não chegam a ser aviús. O Telegrama, enrrodilhado no pé do esteio de acapú, próximo da virafolha e rompemato, mais parece uma peconha, sabe-se que não é porque, eventualmente, ergue a cabeça para espiar o que está acontecendo – tem um faro excelente, sem igual pra caçar um peba e pra acuar um porco – axi, que exista outro igual. No jirau, a chicolateira ainda tem uma rebarda de borra; o alguidar está virado, a cuia pitinga dentro da panela de barro que está vazia, parece pedir socorro – não tem água e a maré está seca, quase esturricada. O miritizeiro liso dificulta ficar em cima, só mesmo segurando no mará.A mantaria, um pouco esbandalhada, está parcialmente enterrada no tijuco, só dá pra ver o gaviete e a rudela. Se não tiver um rombo, é porque a água entrou por cima do pavês.Ainda bem que tiraram o faia e a forqueta. Dia difícil.
Como está não é aconselhável ir tirar mandioca; nesse caso, o aturá e o tipiti,podem ficar ali mesmo, presos no espeque.Com esse tempo, também o difruço ataca “no barde” e no momento não tem lambedor.Com a várzea encharcada é fácil pegar um mijacão. Os xirimbabos ficam tristes. O bacurote está baquiado, a bácula fica só deitada,mufina, não emprenha porque o barrasco está emprestado e a porca, amamentando seis bacurinhos piquixitos, precisa de comer. O peor é ter que enxotar os xirimbabos do caroçal, alí tem imissidade de mucuim e mutuca, se a porca pegar mina de mucuim certamente uma bicheira se instalará e aí o jeito é tratar com creolina. Creolina nem sempre está disponível. Todo cuidado é pouco. A bóia é o tradicional: açaí com camarão frito.Mas o açaí, como ainda está verduengo, temos que apanhar alí perto do sororocal onde ainda tem uma puntinha com uns cachinhos, se os tucanos e araçarís não comeram tudo.Só tem umas vassourinhas que estão pretas.Com as árvores lisas e com esse haver de tataíra, trepar nelas fica arriscado.Uma escorregada e babau galheta. O jeito é apanhar alguns cachos de açaí paró. Não é do bom mas dá pro bebe. Uns peixes de um poço seriam benvindos mas com esse burrisco não tem tapagem que aguente. Pegar uns peixes no sulapo seria outra alternativa mas os jandiás, os candirús e os maruins devem estar só esperando. Poderíamos ainda tirar uns turús ou pescar, mas, a água está muito tipitinga. Assim não dá. Vamos ficar só com os camarões com açaí. O pitisqueiro está quase vazio, tem uma rebarba de farinha na lata mas deve ter ficado mole.Esse tempo não permite que o pai lourenço seja retirado e pode estar apodrecendo na roça, enquanto isso,tucandeira e tapiaí fazem a festa e o camapu bamburra. Que fazer? Esperar a noite chegar e se não tiver farinha, o jeito é amarrar a rede num caibro, destrançar bem o cairé, fazer um café com o restinho da borra, deitar e se a frieira perturbar, coçar na beira da rede (deve-se ter cuidado com a baranda para não machucar os dedos) e com ajuda de uma lamparina, ler o Pavão Misterioso até o sono chegar pois aí o burrisco não atrapalha (a menos que seja preciso ir na retrete). A palha de buçu bem mupicada impede que o mesmo perturbe. Amanhã se o burrisco passar e não cair nenhum toró a gente vê. Será um novo dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário