sábado, 19 de março de 2011

hoje é sábado, dia de festa.

No Igarapé Giticateua, onde eu morava, tinha uns rituais estordes aos sábados, dia dos preparativos para as festas que íamos em algum lugar. Não existia um lugar específico para os eventos dançantes, tinha sim, aqueles que mais amiúde organizavam as festas. Dizíamos que nesses casos, era para caçar níquel. Bom, pela manhã, as moçoilas que por por lá eram chamadas “as piquenas”, saiam para o mato pra procurar uma guaximgubeira pra extrair o leite da árvore e assim tirar o açaí que fica na mão da pessoa quando tem que amassar a frutinha para retirar a polpa. O “velho” ia dar uma volta no mato e procurar uns sacaís de madeira pra fazer fogo e conseguir umas brasas para por no ferro para passar a roupa. A melhor lenha pra fazer brasa, sem dúvida nenhuma, é o pacapeuá. O ferro de passar era aquele tipo “navio”, que a fumaça sai pela frente e pesa bastante, para levantar é preciso ter sustança. As roupas eram guardadas num baú e para perfumá-las colocava-se pau d’angola, ficavam cheirosinhas.Os pirralhos iam de calças curtas e camisa por baixo da calça. A rapaziada ia de calça de nycron,mas quem fosse bom de perna, de um modo geral tinha preferência por linho, que depois de bem passado e enrrolada a perna da calça de baixo para cima, parecia que tinha sido plissada. A camisa, normalmente era de tricoline ou de linho bem engomada. Os sapatos, alguns tinham marcas de tijuco da última festa, mas com um paninho, pronto, ficava novinho, pois, só eram usados nessas ocasiões, fora disso era descalço mesmo. Devido andar muito descalço o pé da gente ficava igual a um remo de pitaíca e ainda por cima fica tuíra. Não íamos vestidos para a festa, levávamos as roupas, bem arrumadinhas numa maleta. Maletas eram sempre um objeto de estimação, cada família tinha a sua e, às vezes, o rapaz tinha uma personalizada, com palavras ou desenhos feitos na tampa da mesma. A madeira da maleta normalmente era cedro. As piquenas levavam suas pinturas em frasqueiras, era chic. Quase tudo pronto, digo quase porque ainda falta a mutamba ou a vazelina para o cabelo e o estrato para passar depois de vestido, o pente flamengo ou de chifre nada mais é que um complemento. Feito isso, remo na mão, um terçado e uma lamparina no paneiro, a cuia para tirar água da montaria e lá íamos nós, não esquecendo de pedir a Deus para vigiar a nossa casa, mesmo não tendo paredes, portas ou qualquer meio de segurança, tinha somente um quarto no meio da casa, mas o quarto não tinha porta, só um pano pendurado, era a cortina.Quando voltávamos,já tarde da noite, cansados e fazendo os comentários dos acontecimentos, ainda comia-se uma lata de sardinha, se tivesse açaí ainda bebíamos e tudo estava exatamente como tinhamos deixado. Isso era no meu tempo!

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