segunda-feira, 28 de março de 2011

Brincando no sítio.

No sítio nem sempre dava para brincar igual se brincava na cidade.Por lá, empinar papagaio, rabiola, cangula ou curica ficava um pouco difícl, os galhos dos mututizeiros, andirobeiras ou ucuúbeiras não permitiam. Quem morava na várzea, o tijuco dificultava o jogo de bola. Quando estava seco, aparecia a tabatinga e a raiz dos açaizeiros esbandalhavam os pés, sem contar que, as bolas de sernambi, seringa,mangada ou aninga nem sempre estavam à disposição. Pneus, como chamávamos para as bolas que os jogadores usam, por lá não tinha, era muito caro.Brincar de assassina, também ficava difícil. O jeito era trançar folhinha-verde e deixar o tempo passar. As meninas quase não brincavam de mãe-de-barra.Contudo, o divertimento nunca faltou. Quer melhor do que ao pular n'água, da raiz do mangueiro ou do galho da momorana  e virar uma carambela no ar? Brincar de pira no igarapé com a maré grande? Pegar um sapato esbandalhado e tirar o couro para fazer um saco de baladeira ou procurar nos breguessos alguma coisa que sirva para improvisar algo para brincar? Tínhamos que usar a criatividade. Uma sapopema de mututi, sequinha, talhada e bem preparada, dava e dá um excelente barco para porfiar com outros barcos no rio.O miriti que sobrava, depois de seco podiámos tirar as tábuas e fazer uma igarité, ficava joinha, joinha.Com miriti também faze-se bonecos, canoas, passáros e outros brinquedos. Em Abaetetuba tem uma cooperativa de artesãos que trabalham só com miriti. Os meninos mais habilidosos faziam pião do galho da goiabeira. Se desse, poderíamos brincar com peteca e aí ficava fácil porque, abicorar atrás de uma raiz é covardia e quem conseguia um aço ou um bom balão estava feito, se fosse o fona, era a gloria. No interior as brincadeiras são saudáveis, por lá, ninguem malinava com ninguem.As meninas, de um modo geral, faziam suas bonecas de restos de pano ou usavam as frutas da pitaiqueira para talhar outros brinquedos. Podíamos usar o carôço do tucumã para fazer inúmeros bichinhos. Pode-se fazer uma verdadeira "fazenda" com o carôço do tucumã. Em último caso, se fosse difícil arranjar uma brincadeira, pegava-se a montaria, ia-se para a dobra do igarapé e remava-se bem forte até o porto, porfiando com um competidor imaginário ou tomava-se banho na chuva enquanto o Papai fumava, sentado no jirau e a Mamãe deitada na rede de vez em quando alertava – Saí dessa chuva, olha a constipação! Bincadeiras no interior não faltam.

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