sexta-feira, 2 de setembro de 2011

LEMBRANÇAS DO CÍRIO DE TEMPOS ATRÁS.


Quando eu era gito lá pelo Giticateua, nesta época, já estávamos nos preparando para o Círio que acontece em Ponta de Pedras todo último domingo de novembro. Era o momento de verificar se o sapato ainda calçava bem ou se estava apertado, se as roupas zinhas assim, assim, não estavam puídas e, se fosse o caso, ir à Belém comprar. Era o momento de economizar para, quem sabe, comer uns rebuçados ou umas cocadas, talvez um tacacá da Malacafenta (Tia Santana) ou um mingau da Tia Sofia; um pastel da D. Palmira que o João Francisco, depois o Lázaro e o Gibué tornaram famosos pelos recheios generosos e um pouco apimentados.
Durante os festejos do Círio, vários acontecimentos ocorriam.
A molecada, essa, de vez em quando sumia. Não era preciso preocupação, não tinha traficante, droga não passava de uma simples palavra que era pronunciada quando esquecíamos alguma coisa no sítio, mutamba, por exemplo, ou o sapato que estava um pouco apertado porque estivera dentro de um paneiro pendurado no caibro por muito tempo e ressecado não cabia mais no pé, só molhando. Para encontrar a molecada, era muito fácil, bastava ir ali ao lado da casa Tavares, num capinzal junto ao trapiche municipal que a turma estava lá, lutando, suados e depois vinham reclamar da comichão, muitos com os cabelos grudados com chicletes, para tirar só pelando o moleque.
E os rapazes e moças? Bom, esses era um caso à parte.
Após os estouros dos foguetes feitos pelo seu Otávio, tinha início a missa, celebrada na igrejinha, onde a simpatia do padre Guido cativava. Finda a missa as moças saiam para passear, rodando na calçada da pracinha que fica em frente da igreja. Esse passeio era no mesmo sentido, geralmente no sentido contrário ao movimento dos ponteiros do relógio, era organizado direitinho, era uma questão cultural. Algumas moças, mais traquinas, saiam de casa depois da ladainha, o certo é que a pracinha ficava cheia. inúmeras moças bonitas, com vestidos ou saias com cinturinhas finas, corpetes, tudo muito discreto, diria mesmo simples, porém bonitas, prato cheio para a rapaziada que ficava paquerando, em pé, só abicorando.
Os rapazes vestiam-se da mesma forma, simples, com calças de linho ou outro tecido semelhante e camisas de pano. Calças e camisas compradas prontas eram pouco usadas. Ainda tínhamos inúmeras “costureiras de  mãos cheias”, a Tia Andreina era uma delas. nessas ocasiões estava cheia de encomendas, não tinha tempo.
Quem já tinha sua pequena passeava de mãos dadas e aproveitava para impressionar um pouco, pagando um sorvete no King Bar ou mesmo um Guarasuco, nada de escurinho. Uma volta pelo trapiche era permitida, além de romântica. 
As festas tinham início após às vinte e três horas, enquanto isso, passeávamos aguardando o horário do leilão em que seu Ioiô Monteiro, leiloava as prendas que ficavam em cima de uma mesa, em frente a Igreja. O leiloeiro andava a praça toda oferecendo o objeto, passava entre uns bancos de madeira que existiam próximos ao coreto e algumas cadeiras ou bancos tipo mocho que os moradores traziam de casa para sentar enquanto acompanhavam o leilão. Enquanto isso, o Cláudio Boulhosa alegrava por ali contando piadas e divertindo quem estivesse por perto. O seu Miguel Jarana, sentado no banquinho dele conversava e frequentemente  levantava para dar uma olhada na praça. O Imérito servia o seu tradicional cafezinho. O Fandango, com seu cigarro divertia a turma contando alguma lorota.  O Capivara, Malva, Nalziro e Maximino ficavam ali pelo Pedro do Bidi ou seu Lindolfo, tomando umas e o João, ficava lá na “cabeça do trapiche”, às vezes sozinho ou conversando com algum desgarrado que estivesse por ali. O Seu Arlindo C. de Pedra não parava, era de um lado pra outro inquente.
Terminado o leilão, a Banda da Polícia Militar iniciava um belo dobrado, o Bararu, meu Pai, se aproximava para ouvir bem o clarinete e depois comentava comigo: - Mas é boniiito!
O relógio da igreja, que nessa época funcionava bem, dava as onze badaladas, era hora de rumarmos nosso barco na direção do Carnapijó. Com o dinheiro economizado no bolso, lá íamos nós, porque a Joana Lhaqui nos esperava.
Logo depois o motor da usina era desligado, a luz apagava e o silêncio voltava a reinar em Ponta de Pedras. Somente o picarpe denunciava que o pessoal se divertia e os poucos que perambulassem pelas ruas sentiam-se seguros. Assaltantes? Nem pensar, o Paulo Tataíra, vestido de azul, cheio de galões e alamar amarelo, com seus subordinados, igualmentes uniformizados, alguns com divisas, viviam rondando a cidade, para nossa segurança e se encontrassem algum coçado desordeiro, entregavam para o soldado Butuvu ou Alcione por no xadrez,que ficava onde é o atual prédio da Prefeitura Municipal, evidentemente com o aval do sargento Onça, que era o Delegado.No outro dia, encontrávamos o arruaceiro com a cara mais deslambido comprando camarão no mercado e tinha início a mais um dia de festas.
Tempos bons aqueles.   

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