quarta-feira, 28 de setembro de 2011

CREUZA, A PÁVULA.

Dona Fulaca estava terminando de preparar uns peixes que seu Filismino pegara no cacori, enquanto isso, Juca, em pé nas proximidades olhava sua Mãe riscar alguns jaraquis. Tinham ituís, duas ou três pescadas e um belo piranambu, ao todo, uns três quilos de peixe.
Diquinha atiçava o fogo e seu Filismino foro tomar banho.
Mas Juca – disse D. Fuluca – tu sabe quem chegu de Belém?
- Não Mamãe, quem foi? Respondeu Juca.
- A Creuza.
E quem é Creuza Mamãe? Indagou Juca.
- Mas a filha da cumadre Dicota e du Cumpadre Zé Pongó, aquele qui mora ali abaixo da buca du Paricatuba, naquela enseada.Respondeu D. Fuluca.
Ah, sim, lembro..E daí?
Meo filho, o qui é verdade mande Deus que se diga: a piquena tá pávula, tá pávula, que só vendo. Eu tava sentada naquele banco du João Ramos cum o Diquito Prego e o Cumpadre Pongó, isperando a Diquinha qui tinha ida cumprar uma quarta de café e meio quartilho de querosene e quando eu vejo, lá vem a Creuza, ali da banda da rampa, aquela qui us Abaiteuaras encostam com us potes pra vender.Disse D. Fuluca.
- Eu sei.
- Puis é, ela chegu e nem tumu bença, eu, calada estava, calada fiquei. Meo filho, a piquena tava cum vistido tão apertado qui dava pra ver a marca da carçinha dela, um vistido gitito mesmo. Tuda hora ela ajeitava u cumprimento du vistido, puxando pra baixo, eu num intendo porque essas piquenas compram um vistido tão curto pra despuis ficar puxando, porque num compram no cumprimento certo? O Diquito ficava só olhando pra ver se via arguma cuisa. Pra cumpretar ela tava de sapato arto e de zóculos, mas mano, ela ficu tudo tempo se tariando pru salto não entrar na greta da tábua da ponte; o zóculos, era tão grande que parecia um zolho de tralhoto e num parava de ajeitar, era  um haver de acerta zóculos, joga u cabelo pra trás, ispia pru lado pra ver se arguém tava ulhando, era uma pavulage só!.
- Mas Mamãe, ela frisou o cabelo não foi? Perguntou Diquinha.
- Mea Filha, eu num me alembro cumo era u cabelo da Creuza.
- Mamãe, o cabelo dela era liso, a Senhora não lembra? Disse Juca.
- Antão pintu, porque tava tali quar um murrão de argudão que teu Pai faz pra calafetar a muntaria. Falou D. Fuluca
Coma assim Mamãe? Indagou Juca.
Meo filho, Tava tudo inrrolado e vermelho, parece us murrões pintados cum zarção - creio em Deus Pai!
- Despuis ela tiru o zóculos e deu pra ver a imissidade de pintura que ela tava usando. O zolho tinha uma berada pintada de azur e por cima meio marrom, mas meo Filho, quando ela piscava a pele ingilhava e isticava, qui cuisa feia, mar cumparada, parecia um fiofó de galinha.
- Mas Mamãe, a Senhora já viu isso? Perguntou Juca.
- Ora Juca, eu num vi, mas dá pra carcular. Respondeu D. Fuluca.
- Nu rosto ela passu tanto ruge, qui Deus me perdue, parecia uma visage, uma visage! O Diquito, aquilo qui é pessimismo em pessoa, só ulhava.
Despuis, u cumpadre Pongó disse qui ia imbora e a Creuza, foi de sapato arto até na cabeça da ponte. O Diquito, aquele peste, pois desceu dizendo que ia impurrar a muntaria que istava inseca, mas quar nada, ele fui ispiar a Creuza passando por riba da ponte, aí ela ficu imbatucada, num sabia se olhava pro chão pra livrar o sarto da greta da tábua ou fechava a perna pra evitar que o Diquito visse arguma cuisa, foi muito istorde a situação.
- Mas Mamãe, porque a Senhora lembrou disso agora? Indagou Juca.
- Meo Filho, é que eu alembrei da cumadre Dicota; nu panero do cumpadre Pongó, tinha uns tres maparás sargados, daqueles que vem de Cametá e uma cambada de tamuatá du gelo, agora tu carcula a Creuza cum aquela pavulagem tuda, cumendo peixe pitiu nu armoço e na junta, num tem istrato que dê jeito. A num ser qui ela tome um chibé, um mingau branco ou como duis uvu cozido, aí eu quero vê aquela pavulage tuda. Disse D. Fuluca.
- É Mamãe, mas de fome ela não vai morrer - Respondeu Juca.
- E a bóia sai ou num saí? Perguntou seu Filismino que chegara do banho.
- É pra já – Disse D. Fuluca - Diquinha, mea filha, me pega duis limãozinho pra temperar isti pexe e pega umas pimentas pru teu Pai, anda piquena. Mas gosta de iscutar cunversa, mas já gosta.
Causos do sítio.

28SET2011.

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