Um dia
desses resolvi dar uma lida na Medida Provisória nº 665, de 30 de dezembro de
2014, que trata dentre outros assuntos, do seguro desemprego (Seguro Defeso) para o pescador artesanal. Leia a MP aqui. Confesso que
fiquei um pouco apreensivo quanto à exigência para o pescador se habilitar ao
recebimento do seguro, principalmente no que se relaciona à comprovação da
venda do pescado, conforme previsto no Art.2º, parágrafo 2 inciso II, que diz: “II - cópia do documento fiscal de venda do
pescado a empresa adquirente, consumidora ou consignatária da produção, em que
conste, além do registro da operação realizada, o valor da respectiva
contribuição previdenciária, de que trata o § 7º do art. 30 da Lei nº
8.212, de 24 de julho de 1991, ou comprovante do recolhimento da contribuição
previdenciária, caso tenha comercializado sua produção a pessoa física”.
Pelo
que entendi, o pescador terá que comprovar a venda do pescado. Imaginei logo no
grande número de conterrâneos marajoaras que poderão deixar de receber o
seguro, pois, pelo que eu sei, em alguns municípios, como Ponta de Pedras (PP), não tem nenhuma
empresa que compre o pescado e até uma fábrica de gelo que o Governo Federal
repassou verba para construir, não vingou e nem sei que fim levou do dinheiro.
O comprovante do recolhimento da contribuição previdenciária quando o produto
da pesca for vendido para pessoa física, da mesma forma, será outro problema,
até mesmo pelo número de pescadores que vejo no mercado de PP vendendo seu
produto, principalmente camarão que, segundo o Bené do Lisaldo “ É só do Pitbull!”.
Acho
que esse pessoal terá um pouco de dificuldade em comprovar a venda do peixe.
Pensei cá com meus botões: mas os pescadores artesanais em PP não são muitos,
porque quando vou comprar camarão ou tamuatá no mercado, quase a maioria do
peixe vem de outros municípios, poucos pescadores artesanais estão por ali
vendendo peixe.
No tempo do dantes, em PP, além do
tradicional camarão, aparecia com certa frequência peixe de camboa, cacori, espinhel
e até piraíba vinha da Mangabeira. O Bitó vendia à tarde, no velho Mercado
que, infelizmente, um desses prefeitos iluminados que passou por Ponta de Pedras mandou jogar
no chão. Naquela época se via mais pescadores. Hoje, além do peixe andar
vasqueiro, os pescadores que andavam com seus batelos cheios de paris e estacas
desapareceram, parece até que a buiuna devorou algum deles e seus descendentes
ficaram amedrontados de abraçarem a profissão. Ai, definitivamente o peixe
pescado ali pela beirada desapareceu, escafedeu-se! Mesmo assim, ainda resta
uma boa rebarba de pescadores pra receber o seguro defeso.
Diante da atual decisão dos nossos
governantes que são sensíveis aos pobres, segundo dizem, a choradeira vai ser
purruda e, eu, curioso que só macaco, resolvi dar uma olhado no Portal da
Transparência para ver se era grande o número de pescadores artesanais de PP
que poderão ser afetados. Ai levei um burrá dum susto, como se tivesse visto
uma visagem, haja vista a imissidade de pescadores
artesanais existentes no Município e portanto, o estrago pode ser grande nas
finanças desse pessoal.
Resolvi fazer uma comparação entre os 16
municípios marajoaras, fiz assim: em cada página do portal das Transparência, veja aqui , constam 15 nomes de beneficiados, ai multipliquei pelo número de
paginas menos uma e depois somei com os nomes constantes da última página
porque aquela nem sempre está completa e obtive o total de pescador por
município que recebeu o seguro. Não contei um por um, portanto pode haver algum
erro, até porque tem alguns nomes repetidos, mas meu objetivo é a ordem de
grandeza, somente isso. Busquei no Portal do IBGE, veja aqui, a população que
consta no portal relativo ao censo em cada município, para termos uma noção da
relação número de habitantes vs número de pescadores artesanais por município considerado e preparei a tabela
abaixo:
Município Habitantes Pescadores
Afuá 35.042 4.001
Anajás 24.759 1.345
Bagre 23.864 1.849
Breves 92.860 5.607
Cachoeira do Arari 20,443 9.766
Chaves 21.005 7.056
Curralinho 28.549 7.278
Gurupá 29.062 2.580
Melgaço 24.808 5.208
Muaná 34.204 11.973
Ponta de Pedras 25.999 15.593
Portel 52.172 1.366
Salvaterra 20.183 14.780
Santa Cruz do Arari 8.155 4.704
São Sebastião da B.Vista 22.904 12.926
Soure 23.001 14.791
É importante observar que, no Portal da
Transparência, consta a seguinte explicação sobre o pagamento do seguro
defeso:” "A consulta "Despesas – Pescador Artesanal" do
Portal da Transparência do Governo Federal permite ao cidadão acompanhar os
pagamentos destinados ao pescador que exerce a atividade de forma artesanal,
individualmente ou em regime de economia familiar, no período de proibição da
pesca para determinadas espécies” e nas páginas referente ao pagamento por
município o portal transcreve “Total de pagamentos aos favorecidos do município
..”. Pode-se observar que não é informado se o pescador recebe todo ano, daí
não se pode concluir se o mesmo ainda está recebendo o seguro, mas podemos concluir
que esse número corresponde aos que receberam ao recebem o seguro.
Dos números
constantes da tabela, nota-se o grande número de pessoas que receberam o seguro
defeso. Alguns municípios como Ponta de Pedras, Salvaterra, Santa Cruz do Arari,
São Sebastião da Boa Vista e Soure, mais da metade da população do município já
recebeu o seguro. Temos que considerar que entre a população informada pelo
IBGE, constam munícipes na faixa etária de 0 a 9 anos, que provavelmente não
recebem o seguro. Esse fato eleva o número de munícipes que receberam ao
recebem o seguro e que com as novas exigências poderão ficar sem os recursos
por ocasião do defeso.
Ponta de
Pedras por exemplo, com uma população de 26.000 aproximadamente, onde mais ou
menos 5.000 estão na faixa etária entre 0 e 9 anos, portanto não devem receber
o seguro, restam 21.000 habitantes no Município, dos quais 15.593 receberam ou
recebem o seguro, isto é, quase 75% da população (75% de 21.000) da população
de PP poderá encontrar dificuldades para
receber o seguro.
Acho que
essa Medida Provisória trará sérios problemas para as pessoas que contam com
esse dinheiro e planejam adquirir algum bem, assim, seria bom que os munícipes
ficassem atentos para evitar transtornos de última hora.
OBS; Dúvida sobre alguma palavra pouco usual, veja o significado na página vocabulário do sítio existente no blog.
OBS; Dúvida sobre alguma palavra pouco usual, veja o significado na página vocabulário do sítio existente no blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário